Comparemos estas duas frases:
1) Sou todo ouvidos.
2) Somos todos ouvidos.
A frase 2) é o plural da frase 1).
Ora a frase 1) é inteiramente clara, pois significa: estou inteiramente ao seu dispor para o ouvir.
A frase 2) não é inteiramente clara, porque pode ter dois sentidos:
3) Estamos todos ao seu inteiro dispor para o ouvir. Isto é, estamos prontos e de boa vontade para o ouvir.
4) Todas as pessoas nos ouvem.
Este duplo sentido desfaz-se perante a situação e/ou o contexto.
Suponhamos esta situação: sabe-se que a pessoa que vai falar será acatada por todos os ouvintes. Nesta situação que todos conhecem, ou que o texto - pode ser um romance - mostra, o significado da frase 2) será o que se encontra explicado em 3).
Suponhamos agora outra situação: um grupo de pessoas vai falar com determinada entidade constituída por uma ou mais pessoas. Os componentes desse grupo sabem que vão ser bem atendidos. Então, qualquer um deles dirá: «Somos todos ouvidos». Isto é, vão-nos (ou vai-nos) ouvir a todos, e com atenção e acatamento.
Como vemos, qualquer das interpretações é aceitável. O mesmo se dá com as palavras. Algumas têm muitas dezenas de significados, mas não há confusão, quando a linguagem é acertadamente construída. Essa palavra tem tal ou tal significado conforme o contexto e/ou a situação em que é empregada.
As frases «somos todos ouvidos» ou «tudo em nós são ouvidos» estão correctas e exprimem o que se pretende. O único contra que têm, parece-nos, é não serem habituais.