As observações do consulente são lógicas, e sinto-me tentado a aceitar sala de jantares e quarto de banhos. O único problema é que (quase) não se usam, como se pode comprovar, por exemplo, no ‘corpus’ CETEMPúblico.
Se fizermos uma consulta no referido ‘corpus’, verificaremos que sala de aula e sala de aulas são expressões usadas: a primeira tem 498 ocorrências, e a segunda, 87. Há, é claro, uma disparidade entre as duas expressões, a qual indica que sala de aula prevalece, pelo menos no período a que os textos do ‘corpus’ se refere (de 1991 a 1998).
Utilizando o ‘corpus’ para a obtenção de ocorrências das expressões sala de jantares e quarto de banhos, veremos que a primeira tem apenas uma ocorrência contra as 246 de sala de jantar e que a segunda nunca aparece, em contraste com as 50 ocorrências de quarto de banho (banheiro no Brasil). Na estatística do emprego desta designação devemos ainda somar 1154 ocorrências do sinónimo casa de banho ; casa de banhos surge apenas uma vez , mas incluída numa unidade maior – casa de banhos públicos –, pelo que não pode ser considerada como variante de casa de banho.
Parece-me que estes dados mostram que o uso linguístico – seja ele lógico ou ilógico – constitui também um factor importante na estruturação de uma língua. É que, proporcionalmente, sala de aulas afirma-se como uma alternativa, ainda que minoritária, de sala de aula, ao passo que sala de jantares e quarto de banhos não chegam a alcançar esse estatuto perante as expressões em uso, a saber, sala de jantar e quarto de banho.
A própria lexicografia mais recente reforça estas observações. O Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea (2001), da Academia das Ciências de Lisboa, regista sala de jantar/casa de jantar e casa de banho/quarto de banho, sempre com banho no singular. O mesmo sucede com o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (2001), que inclui as formas sala de jantar e casa de banho, sem que haja registo de outras variantes.
No entanto, é de notar que estes dicionários são omissos quanto ao uso de sala de aula/aulas. Apenas no Novo Aurélio Século XXI encontrei o registo de sala de aula, sem inclusão de sala de aulas, podendo talvez daqui concluir-se que só sala de aula é forma legítima. Mesmo assim, e pelo menos no Português Europeu, como evidencia o 'corpus' utilizado, considero que só podemos dizer que existe uma preferência pela expressão sala de aula, sugerida pelo facto de esta ser mais usada do que sala de aulas. Contudo, não podemos inferir que a forma maioritária – sala de aula – é a correcta, porque, se, por um lado, ela não tem sido objecto de um discurso prescritivo tradicional que a defenda e recomende, por outro, os dados quantitativos sobre as duas variantes e a semântica das mesmas não nos permitem retirar tal ilacção .