«Fi-los meditar, refletir em conjunto. Interpretar. Sentir. E o ensino/aprendizagem ganhou algum sentido. A partir daqui, os pais/encarregados de educação passaram a fazer parte da turma.»
Os tempos mudaram e os professores, se querem continuar a fazer aquilo que os motivou a escolher essa profissão, muitas vezes inventam, reinventam, adaptam-se, readaptam-se, numa busca incessante de se sentirem úteis, de se fazerem ouvir, de ensinarem e de procurarem que os alunos aprendam, efetivamente.
A minha longa experiência no ensino fez-me ponderar. Habituada ao ensino secundário, regressei aos sétimos anos, com a suprema esperança de conduzir ao encantamento pela Língua Portuguesa, se começasse pelos mais pequenos.
Contudo, deparei-me com fortes concorrentes, que não existiam noutros tempos: os telemóveis, os computadores, os múltiplos canais de televisão, os jogos eletrónicos. Tudo o que eu tinha para oferecer a estes jovens era aborrecido, desinteressante. A leitura, cansativa. A gramática, inútil. A escrita, complicada.
Nunca fui de me resignar. Levei a poesia para as aulas. A poesia e a música. A poesia, a música e os encarregados de educação. Misturei-os a todos. Envolvi-os. Uni-os. Fi-los meditar, refletir em conjunto. Interpretar. Sentir. E o ensino/aprendizagem ganhou algum sentido. A partir daqui, os pais/encarregados de educação passaram a fazer parte da turma. Sempre que estivessem disponíveis, a porta da sala de aula estava aberta. Nem precisavam de avisar. Devo acrescentar o grande apoio e confiança que em mim depositou a direção da Escola Secundária Inês de Castro (ESIC, em Vila Nova de Gaia), sempre focada no sucesso dos alunos.
Certo é que o seu comportamento era melhor, sempre que havia outros adultos a participar. Alguns destes iam para aprender, outros para colaborar e cooperar comigo, ajudando a manter o silêncio, necessário a todo o processo; e, na verdade, com quase trinta alunos na sala de aula, não é fácil, pois alguns deles estão ali por obrigação e nada lhes interessa.
Nesta altura em que faço um balanço daquilo que fiz, penso que foi uma das melhores experiências da minha vida: a sala de aula é um jardim e, quando se trata de crianças /jovens, todos somos necessários para os ajudar a crescer.