Neste, como em tantos outros aspectos da gramática, não há consenso entre os autores, o que dificulta o trabalho de quem precisa de um fio condutor para fazer uma simples análise sintáctica.
A TLEBS revista (2007) diz o seguinte a propósito do predicado:
«Predicado é a função sintáctica desempenhada pelo grupo verbal. Grupo verbal: grupo de palavras cujo constituinte principal é um verbo e que funciona como uma unidade sintáctica. O grupo verbal pode ser constituído exclusivamente pelo verbo ou complexo verbal, ou por um verbo e pelos seus complementos e/ou modificadores.»
Conclui-se que, segundo a TLEBS, o predicado inclui o verbo, os seus complementos e os modificadores; por conseguinte, o predicado da frase 1 é: «para a barca do inferno vou», e o da frase 2: «escreveu há séculos o Auto da Barca».
De outro lado, autores há que consideram que o predicado inclui apenas o verbo e os seus complementos, ou seja, os constituintes que fazem parte da grelha argumental do verbo, sem os quais o significado global da frase ficaria incompleto.
De acordo com este segundo quadro, a expressão «para a barca infernal» faz parte do predicado da frase 1 (o verbo ir exige esse complemento: «ir aonde» ou «para onde»), ao passo que o constituinte temporal «há séculos» não integra o predicado da frase 2, porque a sua omissão não gera agramaticalidade («Gil Vicente escreveu o Auto da Barca»). O verbo escrever exige apenas o complemento directo «o Auto da Barca» (escreveu o quê?).
Se me é permitida uma opinião, considero que o predicado inclui unicamente o verbo e os seus complementos. Os modificadores da frase não estabelecem, a meu ver, qualquer dependência sintá{#c|}tica com o verbo, logo, estão excluídos do sintagma verbal.
Disponha sempre!