O Frei Luís de Sousa (1843), enquanto realização dramatúrgica numa época de peças extensas - tipicamente, dramalhões em cinco actos -, é, em si, texto breve, que constrói um "tempo" próprio, na tensão de alguns momentos. Desde logo, e passando-se a acção em três lugares de Almada, é preciso descrevê-los com demora, vendo-os como âncora, do «luxo» do acto primeiro à ausência de «ornato» no terceiro: nos três casos (no acto segundo, interessa, sobretudo, o significado dos três quadros), atardamo-nos no anúncio de grandes males que desembocarão em, respectivamente, incêndio do palácio de D. Manuel, chegada de D. João; morte para o mundo do casal e, já física, de Maria. A acção apressa-se no gesto «agitado» (cena VIII) e fuga do incêndio; na cena VI do 3.º acto (quando, «com ímpeto», D. Madalena invade a sala, onde julgava Telmo e Manuel em diálogo); na irrupção em cena (cena XI, penúltima) de Maria, que «entra precipitadamente pela igreja em estado de completa alienação». No mais, como quem está em vias de perder um bem precioso, tem ritmo lento e reticente, elíptico, de acumulação de indícios e subentendidos, com o futuro dubitativo a acompanhar Telmo e o romeiro («Terá...», I, c. II; III, c. XIV). Essa formulação discursiva apoia-se no recitativo - d'Os Lusíadas, com que se abre, à Menina e Moça e ao final bíblico em latim, seja, da leitura individual à colectiva - e na recorrente evocação da batalha de Alcácer Quibir, em particular quando passamos ao segundo local de acção, face aos quadros na parede. Defendo ser Maria a protagonista da peça que tem o nome do pai, porquanto ela é a grande preocupação de todas as personagens (inclusive, de D. João, de forma menos delida que a do próprio pai), e vítima inocente.
Essa importância verifica-se logo na cena II, quando citada pela mãe, com, um pouco à frente, desejo de Telmo de que ela tivesse nascido «em melhor estado», o que é crítica ao comportamento de D. Madalena, mas, sobretudo, amor entranhado a quem nos conquistou. Falas depois, a inserção de carta trazida por Frei Jorge, em que se anunciava o regresso de D. João «vivo ou morto», é o terceiro instante significativo, que adensa o estado de alma de D. Madalena. Para reforçar os seus medos, obrigada a voltar à antiga casa, a verosimilhança pedia incêndio da actual; enfim, o anúncio de Miranda da chegada de um romeiro (II, c. XI). Em resumo: entre aquelas subtilezas da fundamental cena II e estes dois nódulos fortes, com que se avança, noticiado fica um estado de coisas cedo apreendido, uma ansiedade de vários actores que se procura resolver, isto é, atrasar, com mudanças de espaço e novos cenários, algum gesto patriótico ou recusa do provável (como seja a volta de reféns em Marrocos). Mas o Destino, que não perdoa o «erro» daquela união em que se alicerça o drama, é implacável e será trágico...