A frase está correcta, se considerarmos que «as taras, os fetiches» são o aposto de «o que se faz entre quatro paredes». Nesse caso não há nem erro de pontuação, porque o aposto surge entre vírgulas, nem de concordância, visto o verbo concordar com «o que se faz entre quatro paredes», cujo núcleo («o que») está no singular. Se «o que se faz entre quatro paredes» e «as taras , os fetiches» constituem uma enumeração, então, por preencherem em conjunto a posição de sujeito, o verbo terá de estar no plural, mas é aconselhável que desapareça a vírgula depois de «fetiches»: «O que se faz entre quatro paredes, as taras, os fetiches não interessam absolutamente a ninguém.»
Respondendo a cada pergunta:
1) e 2) Como se disse, o correcto dependerá sobretudo da vírgula depois de «fetiches». Com vírgula, o verbo fica no singular; sem ela, no plural. A substituição do pronome demonstrativo o pelo pronome demonstrativo aquilo tornaria o texto mais claro: «Aquilo... não interessa...» Observe-se que a expressão entre vírgulas «as taras, os fetiches» poderia ser posta entre parênteses ou entre travessões.
3) Se o advérbio sexualmente fosse adicionado ao texto, torná-lo-ia mais compreensivo, mas não seria da mesma ordem sintáctica. Se «as taras, os fetiches» são um aposto, já «sexualmente» aparece como um adjunto adverbial que abrange toda a frase e se torna equivalente a «do ponto de vista sexual».
4) Não percebemos bem esta questão. Se ela visa explicar a regra de concordância do verbo com um sujeito como o da frase em análise, isto é, com um núcleo no singular e um aposto no plural, deve-se recordar que, apesar das muitas excepções (com expressões de quantificação, p. ex., «a maioria»), a regra geral é a concordância com o núcleo da expressão que realiza o sujeito. Se se pressupõe que só um adjunto adverbial como «sexualmente» é possível com uma oração relativa livre como «o que se faz entre quatro paredes», a resposta é negativa, porque não há regras que impeçam um aposto de explicitar o conteúdo de uma relativa livre. Dêmos o seguinte exemplo:
(1) «O que há entre nós, a amizade, o carinho, o sexo, não importa a mais ninguém.»
A expressão «a amizade, o carinho, o sexo» é uma enumeração, mas, embora fazendo parte do sujeito, não constitui o núcleo desse sujeito, que é «o» (ou «o que...»), no singular. Se fosse sujeito de uma oração, então, sim, impor-se-ia o plural ao verbo: «A amizade, o sexo entre nós não importam a mais ninguém.»
Estamos é claro a comentar uma declaração apenas a respeito da sua estrutura linguística. A sua adequação moral já é um outro assunto, que não nos cabe a nós avaliar.