Orlando Neves, no seu Dicionário das Frases Feitas (Porto, Lello & Irmão, 1991), explica-nos o sentido da expressão «Ver-se e desejar-se», usada para designar uma situação que transpareça «estar muito atrapalhado; estar sobrecarregado» (idem, p. 370), mas não nos esclarece sobre a sua origem.
No entanto, no seu Dicionário das Origens das Frases Feitas (Porto, Lello & Irmão, 1992), o mesmo autor elucida-nos sobre a origem de uma expressão com o mesmo sentido — «Ver-se grego», sobre a qual nos diz que a mesma é utilizada «quando se nos depara uma dificuldade que muito trabalho e tempo demora a transpor-se» (idem, p. 167), explicando-nos que (e tendo como fonte Vasco Botelho do Amaral, em Maravilhas e Mistérios da Língua Portuguesa) «o grego foi sempre tomado na romanidade como coisa difícil» (idem), razão pela qual «na Idade Média era frequentíssimo o dito, muito usado pelos que faziam transcrições ou traduções: Graecum est, non legitur — É grego, não se entende», o que ainda hoje se diz de uma outra forma — Isto para mim é grego. Por isso, a expressão «ver-se grego» pressupõe que se teve de ultrapassar muitos obstáculos (algo que não se dominava) para se conseguir realizar o que se pretendia.
Por sua vez, a expressão «Vi-me e desejei-me» deverá, decerto, ter surgido a partir de alguma situação em que alguém se viu perante muitas dificuldades e teve de ser muito persistente e de lutar contra as adversidades (razão pela qual desejou não ter de passar por isso) para conseguir o que desejava.