Se tivermos em conta o que se diz no Dicionário da Academia, este que é uma conjunção que introduz uma frase adverbial, a qual, do ponto de vista semântico-pragmático, veicula a posição do locutor, face à afirmação que é efectuada na subordinante. Esta explicação, porém, tal como aconteceu com as restantes pesquisas que efectuei, não me permite associar esta conjunção a nenhum dos grupos de subordinativas adverbiais (causal, concessiva, etc.). O que explica esta situação é, provavelmente, o facto de estarmos perante uma estrutura cristalizada, ou seja, que se fixou de uma determinada forma, o que dificulta a sua análise. Em alguns aspectos, a expressão em causa aproxima-se de outras em que também é usado o conjuntivo: (1) Que estejas bem é um autêntico milagre. (2) Que sejas feliz! (3) Que eu saiba, a reprimenda foi para ambos. Na frase (1), o que é uma conjunção completiva, que introduz uma frase subordinada substantiva com função sintáctica de sujeito. Em (2), o que continua a ser uma conjunção completiva e introduz uma frase considerada na Gramática da Língua Portuguesa, de Mira Mateus e outras, 2003, p. 487, optativa elíptica, que pode ser parafraseada por outra não elíptica que tenha como subordinante uma frase cujo verbo veicula o valor de opção, desejo, como se exemplifica em (4), ou por outro tipo de expressão, como em (5): (4) Desejo que sejas feliz! (5) Oxalá sejas feliz! O que acontece é que em (3) não há, entre as duas frases, qualquer nexo que permita considerar a existência de uma subordinação substantiva entre as duas frases, dado que «que eu saiba» não preenche uma posição argumental do predicado da frase subordinante, ou seja, não desempenha nenhuma função sintáctica essencial, ou nuclear. Daí podermos considerar o que uma conjunção adverbial. A dificuldade está em lhe atribuir um rótulo… Analisando os contextos em que esta frase pode ocorrer, creio que se realiza com dois objectivos primordiais. Por um lado, pode servir de comentário ou aparte, sobretudo se ocorrer no final, potencialmente com diferente prosódia (fazendo pausa, baixando a voz…) em contextos como (6): (6) A reprimenda foi para ambos. Que eu saiba... Por outro lado, pode ser uma forma de contra-argumentar face a afirmações que estão a ser feitas e com as quais o locutor não concorda totalmente. E, neste caso, aparece no início, podendo, de certo modo, como no exemplo em apreço, que repito uma vez mais como (7), ser parafraseado por (8): (7) Que eu saiba, a reprimenda foi para ambos. (8) Mas a reprimenda foi para ambos. O facto de poder fazer ocorrer sem grande alteração de sentido a adversativa mas em alternativa a que eu saiba ilustra o valor argumentativo do texto. Por isso, se eu tivesse de inserir «que eu saiba» num dos grupos de subordinadas adverbiais, incluí-la-ia nas concessivas, que em muitos casos veiculam valores próximos dos que a coordenada adversativa também veicula. Importa dizer apenas que o que acima está dito é uma interpretação pessoal, discutível, e sem qualquer suporte em bibliografia específica que não encontrei.