Em inglês, usa-se de facto “proprietary format” por oposição a “open format”. Assim:
“OPEN FORMAT – We will say that a file format is open if the mode of presentation of its data is transparent and/or its specification is publicly available. […]
PROPRIETARY FORMAT – We will say that a file format is proprietary if the mode of presentation of its data is opaque and its specification is not publicly available.[…]”
O que se pode traduzir (provisoriamente assumindo o termo “proprietário”) como:
«FORMATO ABERTO – Diremos que o formato de um ficheiro é aberto se o modo de apresentação dos dados é transparente e a sua especificação está disponível publicamente.
FORMATO PROPRIETÁRIO – Diremos que o formato de um ficheiro é proprietário se o modo de apresentação dos dados é opaco e a sua especificação não está disponível publicamente.»
Na mesma página, lê-se que “closed format” é uma expressão alternativa a “proprietary format”, o que, como mostrarei um pouco mais adiante, já nos dá uma pista para identificar o termo mais adequado em português.
Mas voltando a “proprietary”, a tradução deste adjectivo inglês não é pacífica nem em português nem nas restantes línguas românicas. A dificuldade de traduzir “proprietary” como proprietário reside em a palavra portuguesa, que é nome e adjectivo (cf. Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências de Lisboa e Dicionário Eletrônico Houaiss), aparecer normalmente com o significado de «que ou aquele que possui» e não na acepção de «relativo ao possuidor». Um “formato proprietário” poderia sugerir que se trata de um formato «que possui alguma coisa», em vez de transmitir o sentido pretendido: «formato cuja especificação é pertencente a alguém».
Note-se, contudo, que no Glossário da Sociedade da Informação se regis(r)ta proprietário como antónimo de aberto nas expressões rede aberta e rede proprietária:
(1) «rede aberta, s.f.
[en.] open network
[def.] Rede de telecomunicações baseada numa arquitectura que permite criar sistemas combinando equipamentos de diferentes construtores.
Nota: Na indústria de computadores, “aberto” é o oposto de “proprietário”.
[v.tb.] rede proprietária»
(2) rede proprietária, s.f.
[en.] proprietary network
[def.] Rede de telecomunicações utilizada por grupos fechados, que geralmente não está em conformidade com os padrões universais.
Nota: Na indústria de computadores, “proprietário” é o oposto de “aberto”.
[v.tb.] rede aberta»
Do mesmo modo, a consulta do Dictionnaire panlatin des termes de base de l'informatique revela que as línguas românicas estão a adaptar o termo “proprietary” à pronúncia e ortografia de cada uma. No entanto, em francês, em espanhol, catalão e romeno há outras opções:
Francês: “système exclusif” e “système exclusif constructeur”
Espanhol: “sistema exclusivo”, “sistema exclusivo de una empresa”, “sistema proprio”
Catalão: “sistema exclusiu”, “sistema tancat” (= «fechado»)
Romeno: “sistem dedicat”
Na página que estou a referir, só o italiano e o português aparecem como línguas em que “proprietary system” se traduz apenas por “sistema proprietario” e “sistema proprietário”, respectivamente.
De qualquer modo, vemos que existem, pelo menos, três línguas românicas que recorrem a um termo equivalente ao português exclusivo como alternativa à adaptação de “proprietary” (não comento aqui a solução romena, que me parece constituir caso à parte). Nota-se ainda que em catalão também se usa “tancat”, ou seja, «fechado», tradução literal de “closed”, termo em alternativa a “proprietary”, como já se disse acima. Em espanhol também se usa “cerrado”, «fechado», recuperando a relação de contradição com “abierto”.
Sendo assim, julgo que é preferível dizermos em português «formato fechado» ou «formato exclusivo», por três razões:
– é na própria língua inglesa que ocorre “closed format”, para designar um modo de apresentação de dados não-público, uso que, ao invés de “proprietary”, parece não oferecer problemas de tradução;
– os adje(c)tivos franceses, espanhóis e catalães correspondentes a exclusivo e fechado têm maior adequação às tradições e às estruturas dessas línguas e traduzem bem a ideia de haver dados que não estão publicamente disponíveis nesse tipo de formato;
– o português possui os termos exclusivo e fechado, os quais, além de equivalentes aos das línguas irmãs, se mostram adequados à noção associada a “proprietary format”.