Agradeço as suas palavras simpáticas. A questão que coloca é bem interessante e merece, estou certa, um estudo mais aprofundado do que o que está subjacente a esta resposta. De forma simplista, poderemos dizer que o verbo mandar pode ser transitivo directo, tendo como complemento quer uma frase, quer um grupo nominal, na maioria dos casos com características humanas, podendo construir passiva em ambos os casos: (1) O presidente mandou fazer o trabalho. (2) O presidente mandou o funcionário fazer o trabalho. A passiva mais comum de (1) será (1.1), que pode ser construída com omissão do verbo auxiliar da passiva, como em (1.2) (1.1) O trabalho foi mandado fazer pelo presidente. (1.2) O trabalho mandado fazer pelo presidente ficou impecável. (1.3) O trabalho que foi mandado fazer pelo presidente ficou impecável. Por sua vez (2) também admite a voz passiva, mas não parece produzir textos inquestionáveis se o auxiliar for omitido: (2.1) O funcionário foi mandado fazer o trabalho. (2.2) *O funcionário mandado fazer o trabalho saiu mais tarde. (2.3) O funcionário que foi mandado fazer o trabalho sai mais tarde. Analisando os exemplos acima, parece poder concluir-se que, quando o complemento directo do verbo mandar é [+ humano], a forma passiva da frase não admite a omissão do auxiliar. Este facto parece ser corroborado pela prática e regista-se igualmente quando o complemento directo é grupo nominal não humano, por metonímia, parece-me, como se pode verificar no exemplo (6), abaixo. Os exemplos que seguem foram retirados do corpus Cetempúblico: (3) Eduardo fora julgado e tivera sorte: era mandado em liberdade. Ext. 3271 (4) Paulo Milheiro […] é mandado sentar numa cadeira… Ext. 33366 (5) O petroleiro foi mandado avançar para uma zona onde uma eventual maré negra não atingisse qualquer ilha açoriana. Ext. 68534 (6) Um camionista foi por eles rispidamente mandado parar quando buzinava alegremente quase à entrada do tabuleiro. Ext.79225 (7) O actor […] foi mandado sair cinco dias antes. Ext. 90399 (8) Mário Soares foi mandado por Salazar para São Tomé e Príncipe. Ext. 79923 Os exemplos (3) a (8) se, por um lado, apoiam a conclusão esboçada, também permitem colocá-la em causa. É que o exemplo (6) parece admitir a omissão do auxiliar: (6.1) Um camionista, por eles rispidamente mandado parar quando buzinava alegremente quase à entrada do tabuleiro, ficou furioso. Deixando no ar a dúvida, creio que a frase em apreço, que repito como (9), soa mal, ou é pouco adequada, pelo facto de estar construída com base na omissão do auxiliar da passiva. Se a frase for alterada de forma a que o auxiliar seja expresso, como em (9.1) por exemplo, torna-se mais aceitável. (9) Duas horas mais tarde, o irmão mais velho, mandado à sua procura de bicicleta, encontrou-o e trouxe-o de volta contra a sua vontade. (9.1) Duas horas mais tarde, o irmão mais velho, que fora mandado à sua procura de bicicleta, encontrou-o e trouxe-o de volta contra a sua vontade.