Ficou zangado, mas não havia razão para isso, pois não pretendi ofendê-lo. Pelo contrário, os meus argumentos significavam que os seus textos eram perfeitamente inteligíveis sem o acento no pára, pois, caso contrário, não teriam coerência. Parece que pensou que eu estava a troçar das suas expressões, o que não era o caso.
Não costumo responder a pessoas zangadas, pois penso que a língua deve ser sempre estudada com tolerância de parte a parte, pois ninguém é seu dono. No entanto, estou a escrever-lhe porque me dirigiu também uma mensagem pessoal, pela qual depreendi que visitou a minha página, e os meus visitantes merecem-me a simpatia que lhes devo sempre no dever da hospitalidade.
Vou esclarecer agora melhor o que escrevi.
Entendo e aceito os seus argumentos de que o acento no pára era útil para desfazer ambiguidades. Os legisladores foram levados a suprimir este acento como fizeram em pêra e pólo (estes para não se confundirem com formas gramaticais antigas (mas para não é antiga…). Poderiam ter feito o que fizeram com amámos/amamos, fôrma/forma ou dêmos/demos, que deixaram à opção. Poderiam mesmo incluir pára na obrigatoriedade que impuseram para pôde. Talvez tenham concluído que a confusão entre a forma verbal no passado pôde e no presente pode era mais susceptível de confusões graves (por exemplo em textos oficiais) que a forma verbal pára com a preposição para.
De qualquer forma, em defesa dos legisladores, não deixo de lembrar que, mesmo com a norma que ainda vigora, é possível fazer construções ambíguas com cor ¦ô¦, cor ¦ó¦; este ¦ê¦, este ¦é¦; pega, ¦ê¦ pega ¦é¦; fora, ¦ô¦ fora ¦ó¦, etc., etc.
Também é necessário explicar-lhe melhor o que eu disse sobre a necessidade de o escritor se preocupar com o leitor. Repare que considerei duas hipóteses: pretender transmitir a mensagem exactamente, sem ambiguidades, ou com elas. Neste último caso, poderemos considerar incluída a poesia, mas, de facto, também é possível ainda uma terceira hipótese: quando o escritor não tem o objectivo de ser ambíguo, mas simplesmente de procurar transmitir o que lhe vai na alma. Neste último caso, é raro o poeta escrever sem o desejo de ser lido. O que implica a conveniência de que os seus textos sejam gramaticalmente aceites pela comunidade linguística em que está inserido.
Explico também o que quis referir quanto à imperfeição da minha frase intencionalmente ambígua. Se a intenção fosse exactamente dizer que parara o projecto Ota com a decisão Alcochete, a construção da frase deveria ter sido outra, mais correcta, dadas as minhas responsabilidades em Ciberdúvidas.
Muito obrigado pela sua visita.