A frase 1 — «Cinquenta anos não é nada para mim» — está correcta, segundo Celso Cunha e Lindley Cintra, que fizeram regra para os casos particulares de concordância do sujeito com expressão numérica com o verbo ser: «quando o sujeito é constituído de uma expressão numérica que se considera em sua totalidade, o verbo ser fica no singular» (Celso Cunha e Lindley Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, Lisboa, Sá da Costa, p. 504), fundamentando com os seguintes exemplos:
«– Dez contos?! Não será demais?» (Almada Negreiros, NG, 80)
No entanto, segundo João Peres e Telmo Móia (Áreas Críticas da Língua Portuguesa, Lisboa, Caminho, 1995), as questões da concordância não são lineares e, por isso, colocam-nas entre os casos das áreas críticas da língua portuguesa. Porque, apesar de haver regras para a concordância literal (ou gramatical, ou morfológica) entre duas expressões linguísticas — que «consiste numa coincidência de propriedades morfológicas dessas expressões» (Peres e Móia, ob. cit. p. 449) — a realidade mostra «que esta concordância nem sempre é realizada pelos falantes, sendo frequentes as excepções e até os desvios, com graus de aceitação bastante variáveis» (idem). Acrescentam, ainda, que «Rodrigues Lapa aponta três motivos frequentes para situações de ausência de concordância (literal): um, que consiste em concordar as palavras não segundo a letra mas segundo a ideia; outro, segundo o qual a concordância varia conforme a posição dos termos no discurso; e um terceiro que traduz o propósito de fazer a concordância com o termo que mais interessa acentuar ou valorizar» (idem). Os dois linguistas acentuam, assim, «que a ausência de concordância literal nem sempre é fonte de agramaticalidade», uma vez que «a concordância é uma área da sintaxe da língua portuguesa onde o falante tem muitas vezes a possibilidade de optar livremente entre formas distintas» — que se dizem estarem em variação livre — para uma mesma construção.
Ora, a frase que nos apresenta aceita, também, para além da «chamada concordância lógica» proposta de Cunha e Cintra — «processo gramatical que faz prevalecer o conteúdo semântico das expressões sobre a sua forma morfológica, [que] é bastante actuante no português actual» — a concordância literal (ou gramatical, ou morfológica), em que há concordância entre o sujeito plural e o respectivo predicado, ficando este na forma plural.
Assim sendo, duas estruturas são possíveis para tal frase:
a) se tivermos em conta a concordância lógica (em que o sujeito é encarado como uma totalidade), o verbo terá a forma singular:
«Cinquenta anos não é nada para mim.»
b) se optarmos pela concordância literal (gramatical ou morfológica), em que a expressão plural do sujeito prevalece, o verbo figurará no plural: