A primeira observação que deve ser feita é que, no português, não existe um único vocábulo se, mas várias formas homónimas, categorialmente bem distintas entre si. Nesse sentido, os diferentes valores semânticos associados a se vão depender de que tipo gramatical de se está a ser considerado.
1. Se pronominal. A forma se pode ser de natureza pronominal, i. e., substitui, em condições apropriadas, um sintagma nominal. Trata-se de um pronome de terceira pessoa, singular ou plural. Neste caso pode manifestar os seguintes significados:
Sujeito indeterminado: O designado se nominativo, que tem a função sintática de sujeito, surge em frases que, na gramática tradicional, se consideram de sujeito indeterminado. Ex.: «Neste escritório fala-se muito e trabalha-se pouco.»
Valor apassivante: Com verbos transitivos, se pode receber caso acusativo, saturando assim a posição de objeto direto. O argumento interno do verbo será, pois, projetado na posição de sujeito. Trata-se, nestes casos, do se passivo. Ex.: «Escreveram-se muitos livros durante este ano.»
Valor reflexo: Quando o pronome se ocupa a posição de objeto direto e é correferente do sujeito da frase (i. e., sujeito e objeto direto referem a mesma entidade), temos o valor reflexo de se. Ex.: «A Maria penteou-se.»
Valor recíproco: Em frases cujo sujeito é de natureza plural e a forma pronominal se ocupa a posição de objeto direto ou de objeto indireto manifestando um significado parafraseável por «um/uns ao(s) outro(s)», estamos perante o valor recíproco de se. Ex.: «O João e a Maria abraçaram-se.» «Os meus primos telefonam-se todas as semanas.»
2. Se conjuncional. A forma se pode ser de natureza conjuncional, i. e., surge como uma conjunção tipicamente introduzindo frases condicionais. Ex.: «Se estivesse calor, eu ia à praia.»
Note-se que, nestes casos, os diferentes valores semânticos que certas construções condicionais podem assumir não são diretamente atribuíveis à conjunção se, mas à globalidade da estrutura linguística envolvida, nomeadamente aos tempos e modos verbais selecionados.
Assim, um hipotético valor temporal de se numa frase como «Se fores ao mercado, traz-me maçãs» (eventualmente equivalente a «Quando fores ao mercado, traz-me maçãs») não poderá ser atribuído unicamente a conjunção se, mas ao todo da frase em que esta participa. Observações semelhantes podem ser estendidas a outros valores tradicionalmente atribuídos à conjunção se em frases condicionais que assumem cambiantes de significado diversos (concessão, comparação, etc.).
Finalmente, é importante referir que se pode ser uma conjunção de tipo completivo, i. e., introduzir frases que se constituem como complemento de certos verbos. Este se, embora também de natureza conjuncional, é diferente do se que introduz condicionais, na medida em que liga um verbo matriz à frase que lhe serve de complemento. Ex.: «Não sei se a Maria está em casa.»
Muitas vezes, esta conjunção surge em contexto de interrogativas indiretas: «O Rui perguntou ao João se queria mais bolo.»