Analisemos de novo essa dúvida do dia 06/06/01: "A minha esperança é que..." .
Na frase que considerei correctamente construída – "A minha esperança é que ele conte a verdade." – disse, e confirmo, que a oração "que ele conte a verdade" é uma oração substantiva que, interpretou bem, não é complemento nominal.
Como referi na parte final dessa mesma resposta, se ao substantivo "esperança" estivesse ligada uma oração substantiva introduzida pela preposição "de", então essa oração desempenharia a função de complemento nominal (e não adjunto adnominal).
Na nossa língua, é possível traduzir a mesma ideia por meio de construções sintácticas diferentes. Quando se analisa sintacticamente uma frase, analisa-se aquela construção específica, e, nela, cada elemento tem a sua função. Se modificarmos a construção da frase, mesmo que a ideia permaneça a mesma, poderão alterar-se as funções sintácticas dos elementos que compõem a frase.
Consideremos, então, as duas primeiras frases que apresenta agora:
1. "A previsão de que haverá deflação não procede.";
2. "Há em todos a esperança de que ele conte a verdade." (frase com a ordem alterada, pois a que propôs não é usada).
Nestas frases, as orações "de que haverá deflação" e "de que ele conte a verdade" são orações completivas que desempenham a função de complementos nominais respectivamente de "a previsão" e "a esperança", por a essas palavras estarem ligadas pela preposição "de": o complemento nominal é sempre regido de preposição.
O complemento nominal completa, integra ou limita o sentido do substantivo, desempenhe este a função que desempenhar. Na primeira destas duas frases, o complemento nominal está a completar o sentido do sujeito (a previsão); na segunda, está a completar o sentido do complemento directo (a esperança).
O raciocínio que faz a respeito dos restantes exemplos conduz a esta conclusão, mas as orações desenvolvidas que tentou criar não são efectivamente realizações naturais da língua, não estão sintacticamente correctas, pelo que não é possível a sua análise. Repito o que disse acima: a análise sintáctica incide, antes de mais, sobre uma determinada construção, não sobre uma determinada ideia.
Em nome de Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, agradeço as suas gentis palavras. É muito gratificante o apreço dos nossos consulentes.