O acento grave não pode surgir na frase apresentada pelo consulente. Embora o verbo cheirar possa ser usado seguido de preposição (ver esta resposta sobre o uso pessoal e impessoal deste verbo), só ocorre crase quando a sensação ou o estado descritos são específicos. Assim, ao referir-se «cheirava à ironia», temos de especificar a ironia mencionada, alterando o resto da frase para algo como «a morte de um pescador por sezão cheirava à ironia de [algo]» (será possível «a ironia da vila»?).
Mantendo o tom figurado da frase do consulente, chamava a atenção para os seguintes pares:
1) «Ele cheirava a felicidade.»
2) «Ele cheirava à felicidade do amor.»
E também para este exemplo retirado de uma prova vestibular (à semelhança da frase do consulente):
3) «Ela cheirava a flor de romã.»
4) «Ela cheirava à flor de romã.» (também possível em português europeu «à flor da romã»)
Em 1) e em 3), a referência é genérica: pode ser qualquer tipo de felicidade, com inúmeras origens; e o cheiro a flor de romã provém de um espécime indeterminado de flor de romã.
Em 2) e em 4), a referência é específica: a felicidade tem origem no amor; o cheiro que ela emana provém de uma flor de romã específica (p. ex. «Ela cheirava à flor de romã [que o príncipe lhe oferecera]»).