Segundo o Novo Dicionário Lello Estrutural. Estilístico e Sintáctico da Língua Portuguesa e o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciência de Lisboa, ter pode associar-se aos verbos ir e vir, adquirindo dois significados (ver Dicionário da Língua Portuguesa, Porto Editora): se ocorrer com um complemento preposicional regido pela preposição a, corresponde a «dirigir-se a», «chegar»; se a preposição for com, tem a acepção de «ir/vir encontrar-se com». Deste modo, são possíveis as frases seguintes:
(1) Por aqui vamos ter a Coimbra [isto é, «vamos na direcção de/chegamos a Coimbra»].
(2) Vim ter com os meus amigos [isto é, «vim encontrar-me com os meus amigos»].
Estas acepções encontram alguma explicação no português medieval. Neste período, ter (ou teer), acompanhado do pronome reflexo e da preposição com, podia significar «confinar» (ver Xavier, M.ª Francisca et aliae, Dicionário de Verbos do Português Medieval):
(3) a parede que sse tem cõ Stevam Perez crerygo
Não encontrei nos dicionários etimológicos de que disponho (José Pedro Machado, Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, e Silveira Bueno, Grande Dicionário Etimológico Prosódico da Língua Portuguesa) claros exemplos deste uso. No entanto, parece-me plausível que a perífrase «ir/vir ter» se tenha desenvolvido a partir da noção de «confinar», cabendo a ter o papel de definir a direcção ou o limite do movimento e do percursos expressos por ir e vir. Note-se, aliás, que José Pedro Machado inclui «dirigir» e «atingir» entre as acepções de ‘tenere’, étimo latino de ter, o que de certo modo coincide com as acepções da moderna construção em português.