«Partir pedra» significa, entre outras coisas, partir pedra. Como a consulente poderá imaginar não era tarefa fácil, nem profícua. Daí ter a expressão adquirido vários sentidos que a associam a trabalho inútil, algumas vezes ainda com a ideia de esforço, de desbravar terreno, outras vezes apenas com o sentido irónico de inutilidade.
A par deste sentido adquiriu um outro associado, não ao trabalho, mas ao discurso, «partindo-se pedra» quando se promove um discurso ou uma conversa da qual nenhuma ideia concreta resulte. Também se pode referir à conversa desencadeada, normalmente, por um grupo de mulheres, que falam de tudo e de nada, correspondendo, neste caso, ao que em alguns lugares também se chama «conversa de soalheiro»1.
Com este último sentido é também comum, em algumas regiões do nosso país, uma expressão em que partir não é utilizado como verbo, mas sim como substantivo – «um partir de pedra» –, sendo sempre usado com um sentido jocoso e irónico. Quando alguém se quer referir a uma certa conversa inútil e, eventualmente, animada e maledicente poderá dizer algo como «Aquilo ontem é que foi um partir de pedra.»
1 De acordo com Guilherme Augusto Simões, no Dicionário de Expressões Populares Portuguesas (Lisboa, Edições D. Quixote, 1994), soalheiro ou solheiro é «local onde grupos de mulheres falam da vida dos ausentes [...] e põem a vida a público», «maledicência» e «má-língua». A expressão «conversa de soalheiro» significa, portanto, «conversa maledicente, difamadora».