O uso de ex como nome para os dois géneros em frases como «A minha ex telefonou-me», significando alguém de um relacionamento anterior, está limitado a contextos informais, como até acrescenta o Dicionário Priberam. O nome não é reconhecido nem pelo Vocabulário Ortográfico do Português, disponível no Portal da Língua Portuguesa, nem pelo vocabulário da Academia Brasileira de Letras, mas o Grande Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, de Malaca Casteleiro, indica tratar-se de um estrangeirismo com origem no inglês, lendo-se [ɛksɨ], tal como na suposta língua de origem.
A primeira questão é saber a origem do termo. As fontes consultadas que reconhecem a sua existência são contraditórias, uma (Grande Dicionário da Língua Portuguesa) indicando ser um estrangeirismo com «pronúncia à inglesa» – opção adotada, por exemplo, na promoção do filme A Lista dos Ex – e outra (Dicionário Priberam) propondo a pronúncia [eis], igual à da palavra composta.
Aquilo a que assistimos, nestes casos, é a uma redução morfológica de um elemento da palavra composta, situação que acontece também com outras palavras com prefixos latinos, como, por exemplo, vice, reconhecida pelo Dicionário Houaiss como «redução de substantivos precedidos do elemento antepositivo vice-», mas igualmente não atestada pelos vocabulários acima referidos.
A pronúncia de ex à inglesa parece ser mais um sinal do modismo recente que é utilizar termos ingleses que, muitas vezes, até têm equivalente em português (veja-se, por exemplo, esta reflexão de Pedro Mateus).
Quanto à formação do plural, comecemos por distinguir duas situações: o plural da forma composta e o plural da forma reduzida.
No caso da forma composta, sendo ex um prefixo invariável de origem latina que, no presente caso, significa «estado anterior», não flexiona no plural, como acontece na frase «Os meus ex-maridos morreram todos» (Cunha e Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo).
Contudo, a forma reduzida já levanta problemas, como terá sentido o consulente, até porque há oscilações no modo como se comportam outros prefixos, radicais e palavras resultantes de reduções e truncamentos, quando flexionados no plural. Temos, por exemplo, híper, cujo plural é apresentado pelo Portal da Língua Portuguesa como híperes – seguindo a regra de formação do plural para palavras terminadas em r, z e n – sem redução da vogal átona e pronunciado como "hípères", sem redução da vogal átona, tal como acontece em líderes.
No caso em apreço, estando a palavra ex a ser utilizada como nome em contextos informais, poderíamos procurar seguir uma regra de formação do plural para os nomes terminados em x, mas deparamos com algumas dificuldades em determinar que regra seguir: na Nova Gramática do Português Contemporâneo, Cunha e Cintra referem que, tal «como os paroxítonos terminados em s, os poucos substantivos existentes em x são invariáveis: o tórax, os tórax; o ónix, os ónix» (p. 185); contudo, uma obra como o Prontuário Ortográfico e Guia da Língua Portuguesa refere que «os nomes terminados em x formam o plural em ces» e o Portal da Língua admite tanto a forma tóraxes como tóraces para o plural de tórax, mas apenas fénices para formar o plural de fénix , enquanto que dá ónix como invariável no singular e no plural. Em que ficamos?
Pode parecer que não é relevante, nesta situação, evocar uma regra de não flexão de prefixos invariáveis aplicada à palavra composta, mas aparenta ser este o caso, à margem de considerações sobre se ex é ou não uma palavra autónoma, sobre o aspeto átono do prefixo ou a fonética e as regras de formação do plural. Importa observar que Cunha e Cintra distinguem «formações em que entram prefixos que são meras partículas, sem existência própria no idioma, […] daquelas de que participam elementos prefixais que costumam funcionar também como palavras independentes», palavras essas que «adquiriram um sentido especial nas línguas modernas».
Por outras palavras, a partícula ex pode ser reduzida, mas não creio que se comporte autonomamente como acontece com outros prefixos, ao ponto de flexionar no plural como “eces” ou “exes” (a última opção, lida como [ɛksɨs], tal como em inglês, parecerá mais um estrangeirismo de origem anglófona). A título pessoal – estamos a falar de opinião e não de conhecimento fundamentado, pois tal implicaria uma séria investigação – creio que, ao usarmos a partícula ex, temos sempre em mente a palavra composta original, pelo que o prefixo está sempre dependente do contexto, um pouco como o termo contra, que podemos usar em «Ele é do contra», «Ele é dos Contras [membro dos Contras da Nicarágua]» ou «Ele é dos contras [a favor dos contras e opositor aos prós]». O que não acontece com híper ou com rádio, cuja forma reduzida parece estar, por agora, consolidada num contexto e com um significado (dois, no caso de rádio, um para cada género). Assim, embora a linguagem humana seja elástica e permita a nossa criatividade, a forma correta é «Os meus ex», devendo pronunciar a palavra como [eis], com as particulares variações brasileira e portuguesa, assim como outras variações regionais.