Em teoria literária, e num sentido restrito, não existe a categoria de narrador omnipresente, porque... o narrador está em todo o lado. Narrador e narrativa são indissociáveis. O que existe, sim, é o narrador omnisciente, melhor dizendo, o ponto de vista omnisciente, que resulta de uma perspectiva externa, dada, no romance tradicional, geralmente na terceira pessoa. Esta espécie de Deus na Terra da narração tem levantado algumas polémicas: omnipresente embora, a questionação do narrador omnisciente, como é tradicionalmente visto, mostraria que temos um Deus muito fraco (pouco fiável, não fiável, pouco digno de confiança, no dizer de Booth) ou que... não existe. Face às muitas hesitações ou imperfeições que detectamos num narrador desses, como diríamos tratar-se de Deus? Em termos literários, porém, consideramos essa figura do narrador omnisciente; quanto ao omnipresente, ele vai de si, e não exige conceptualização teórica. Notam alguns que reduzir o discurso a, p. ex., uma conversa telefónica entre duas personagens é abolir o narrador; nada mais falso.