Parece haver alguma dificuldade em definir os traços característicos do dialecto estremenho português, até porque não existe a consciência de um falar homogéneo, culturalmente distintivo da Estremadura portuguesa. De acordo com a classificação de Lindley Cintra (pág. 14)1, os dialectos estremenhos fazem parte dos dialectos centro-meridionais, mais especificamente, do subgrupo centro-litoral, que abrange a Estremadura e parte da Beira Litoral, o que significa que apresentam características como:
a) a monotongação generalizada do ditongo [ow] (touro, dou passam a "tôro", "dô");
b) em certas sub-regiões, como a saloia (arredores de Lisboa), a monotongação do ditongo [ej] ("manêra" em vez de maneira), embora este tenha evoluído para [ɐj] no dialecto lisboeta ("manâira");
c) sibilantes pré-dorsodentais, isto é, o /s/ e o /z/ são pronunciados como no padrão europeu e distinguem-se bem do x de baixo e o j de haja — um pouco ao invés do que se verifica nos dialectos setentrionais, onde essas consoantes, na perspectiva dos falantes do padrão europeu ou dos dialectos centro-meridionais, parecem soar quase como "x" e "j", porque são apicoalveolares.
Note-se que o próprio padrão do português europeu constitui uma variedade centro-meridional, baseada nos hábitos linguísticos das classes cultivadas de Lisboa e Coimbra.
1 Ver L. F. Lindley Cintra, "Nova Proposta de Classificação dos Dialectos Galego-Portugueses", Boletim de Filologia, Lisboa, Centro de Estudos Filológicos, 22, 1971, págs. 81-116, e Celso Cunha e Lindley Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, Lisboa, Edições João Sa da Costa, 1984, págs. 11-17.