Não podemos deixar de assinalar que o nome/substantivo caracóis é a forma plural de caracol, representando mais do que um caracol. Ora, esta palavra não tem um só significado, designando realidades de vários domínios campos semânticos (da zoologia, do cabelo, da botânica e da anatomia):
— nome vulgar extensivo a diversos moluscos gastrópodes, pulmonados, com dois pares de tentáculos, o par superior com olhos nas pontas e concha leve, nocivos à agricultura (zoologia);
— madeixa de cabelo enrolado em espiral ou hélice (por extensão);
— trepadeira de até 10 m da família das leguminosas, com flores suavemente aromáticas, de grande efeito ornamental, e vagens pêndulas, nativa do Brasil, do Paraguai e da Argentina; flor da trepadeira do mesmo nome (botânica);
— parte do ouvido interno representada por um tubo enrolado em espiral (anatomia).
Portanto, tudo depende do sentido da palavra. Se nos quisermos referir aos caracóis do cabelo, poderemos utilizar o coletivo cacho1 – «um cacho de caracóis» – nome atestado no dicionário para designar «anéis de cabelo encaracolados em conjunto pendente» (Grande Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora, 2010), e, para designar um conjunto de flores com esse nome, é lícito utilizar-se ramo – um ramo de caracóis.
Relativamente ao molusco e à trepadeira, não encontramos registo de nenhum coletivo na bibliografia específica.
1 O coletivo cacho designa, também, um conjunto de cerejas, de uvas, de bananas (Luiz Autuori e Oswaldo Proença Gomes, Nos Garimpos da Linguagem, p. 139).