O caso de narigão e narizão é interessante na medida em que os usos respectivos podem ser esclarecidos pelo comportamento de outros aumentativos. Em relação aos diminutivos e aumentativos, Maria Helena Mira Mateus et alii (Gramática da Língua Portuguesa, Lisboa, Editorial Caminho, 2003, págs. 958-962) observam que se deve fazer uma distinção entre sufixos avaliativos e sufixos derivacionais. Se aqueles permitem prever qual o sentido da forma derivada, estes são pouco produtivos e dão origem a formas que são hipónimas, isto é, cujo sentido é abrangido pelo sentido do termo base; por exemplo:
(1) carro > carrinho
(2) carro > carroça
Em (1) temos a base carro e o vocábulo derivado carrinho, que é um carro pequeno ou um carro que é avaliado com algum envolvimento afectivo (p. ex.: «o meu querido carrinho!»). Em (2), temos um tipo de veículo, que também em tempos foi um tipo de carro e agora é um outro meio de transporte.
Quando observamos narigão, ficamos a saber, por exemplo, pelo Dicionário Houaiss, que esta palavra deriva não directamente de nariz, mas provavelmente do latim vulgar ‘narica’. Temos, portanto, de supor que narigão foi formado a partir de uma forma portuguesa não atestada, *nariga, que deu, além da palavra em questão, narigada, nariganga, narigudo e nariguda, e ainda narigueiro. Todos estes termos se relacionam não só pela base comum hipotética, *nariga, mas também pelo sentido, por aludirem a um nariz que é grande.
Ora sucede que narizão não é uma forma incorrecta, pois está de acordo com as regras de formação dos aumentativos. Qual é então mais correcto? Narigão ou narizão?
A verdade é que narigão parece ser mais utilizado que narizão; o corpus CETEMPúblico mostra três ocorrências para narigão e nenhuma para o aumentativo regular. Contudo, há que ter em conta que uma das ocorrências de narigão neste ‘corpus’ corresponde a um nome, «pessoa de nariz grande». Além disso, este aumentativo de nariz tem também um valor depreciativo que está registado pelo Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa. Narizão, por seu turno, é também um aumentativo aceitável, mas de intenção menos forte quanto à descrição de um nariz.
Diria, pois, que narigão apresenta um sufixo derivacional, tal como encontramos em rapagão e perdigão. Note-se que rapagão não é só «rapaz grande», mas é também um «rapaz bem desenvolvido, robusto, e/ou bonito» (Dicionário Houaiss); e perdigão não é «uma perdiz grande», mas sim o «macho da perdiz.
Em síntese, como um nariz grande pode, por definição, ser feio, narigão é o aumentativo mais frequente de nariz. Mas a língua permite que se atenue tal conotação desde o aumentativo narizão, até chegarmos a expressões analíticas mais neutras como grande nariz ou nariz grande.