Não é inequívoca a identificação do aposto ou do núcleo no exemplo enviado. Há autores que considerariam que «bebida, fumo, jogo» é o aposto, como se pode inferir da definição de «aposto enumerativo» por Evanildo Bechara, na Moderna Gramática Portuguesa (Rio de Janeiro, Nova Fronteira/Editora Lucerna, 2009, p. 457):
«Chama-se "aposto" a um substantivo ou expressão equivalente que modifica um núcleo nominal (ou pronominal ou palavra de natureza substantiva como "amanhã", "hoje", etc.), também conhecido pela denominação "fundamental" [...].
[o aposto explicativo] enumerativo [ocorre]*, quando a explicação consiste em desdobrar o fundamental representado por um dos pronomes (ou locução) "tudo", "nada", "ninguém", "cada um", "um e outro", etc., ou por substantivo:
Tudo – alegrias, tristezas, preocupações ficava estampado logo no seu rosto. [...]
Às vezes esse tipo de aposto precede o fundamental:**
A matemática, a história, a língua portuguesa, nada tinha segredos para ele.
Em todos estes exemplos, o fundamental ("tudo" [...], "nada") funciona como sujeito das orações e, por isso, se estabelece a concordância entre ele e o verbo.»
Ou seja, à luz desta perspetiva, «Bebida, fumo, jogo» é o aposto, e «tudo», o núcleo do sujeito na frase «bebida, fumo, jogo, tudo o destruía».
Celso Cunha e Lindley Cintra (Nova Gramática do Português Contemporâneo, Lisboa, Edições João Sá da Costa, 1984, p. 507) parecem propor uma análise diferente, muito embora fora da discussão do aposto. Consideram que, em sequências como as da frase em análise, pronomes indefinidos como tudo ou nada resumem um sujeito composto, o que sugere que estes pronomes têm nestes casos a função de aposto – muito embora os dois gramáticos não o deixem expresso:
«Quando os sujeitos são resumidos por um pronome indefinido (como tudo, nada, ninguém), o verbo fica no singular, em concordância com esse pronome:
O pasto, as várzeas, a caatinga, o marmeleiral esquelético, era tudo de um cinzento de borralho. (Raquel de Queirós [...])
A mesma concordância se faz quando o pronome anuncia os sujeitos:
Tudo o fazia lembrar-se dela: a manhã, os pássaros, o mar, o azul do céu, as flores, os campos, os jardins, a relva, as casas, as fontes, sobretudo as fontes, principalmente as fontes. (Almada Negreiros [...]) [...]»
Se adotarmos o ponto de vista de Cunha e Cintra, diremos que, em «Bebida, fumo, jogo, tudo o destruía», «Bebida, fumo, jogo» é sujeito, ou seja, é o núcleo do sujeito, enquanto «tudo» é o aposto.
Quanto a «O advogado José Bastos chega hoje», o núcleo do sujeito é «o advogado», e o aposto, que se classifica como especificativo*, é «José Bastos».
* A distinção entre aposto explicativo e especificativo é exposta por Evanildo Bechara (op. cit., p. 456/457): «Há diferença de conteúdo semântico entre uma construção do tipo "O rio Amazonas" e "Pedro II, imperador do Brasil"; na primeira, o substantivo que funciona como aposto se aplica diretamente ao nome núcleo e restringe seu conteúdo semântico de valor genérico, tal como faz um adjetivo, enquanto na segunda a sua missão é tão-somente explicar o conceito do termo fundamental, razão pela qual é em geral marcado por pausa, indicada por vírgula ou por sinal equivalente (travessão e parêntese). Daí a aposição do primeiro tipo se chamar "específica" ou "especificativa", e a do segundo, "explicativa".» Ver também Cunha e Cintra (op. cit., p. 156).
** Trata-se da estrutura que páginas brasileiras dedicadas à preparação de concursos públicos denominam aposto resumitivo - cf. Gabarite - Simulados para concursos públicos... e Professor Leandro Meost (agradeço esta informação a Luciano Eduardo de Oliveira). Observe-se que, à semelhança de adjetivos como assumptivo ou assuntivo, consumptivo ou consuntivo e presuntivo (não se regista presumptivo na fonte consultada, o Dicionário Houaiss), relacionados com verbos que compartilham com resumir o radical latino sum- (assumir, consumir, presumir), seria de esperar resumptivo ou resuntivo, e não resumitivo. Esta forma foi, portanto, imposta pelo uso, embora não esteja conforme com os padrões morfológicos cultos.