O que diz na sua correspondência de 23 de Fevereiro – a que só agora, lamentavelmente, posso responder – é pertinente. Por exemplo, se a memória me não falha, profissionais de informação como o ex-provedor do leitor do "Diário de Notícias", Mário Mesquita, costumam empregar a forma aportuguesada de "media", média, para se referir ao conjunto dos órgãos de informação. Quando se dicionariza multimédia, se queremos ser coerentes (mesmo, possivelmente, com uma asneira), não há motivo evidente para não dicionarizar também média.
Estas formas, apesar de tudo, são preferíveis em Portugal aos americanismos abrasileirados "mídia" e "multimídia".
Repito: apesar de tudo.
É que se nos deparam aqui pequena perversidade e alguma falta de clareza que me levam a continuar a empregar as formas latinas (entre aspas, como em qualquer palavra estrangeira), assim como o aportuguesamento que me parece melhor: "medium" – meio; "media" – meios; "multimedia" – multimeios.
Repare-se no precedente constituído pelo aportuguesamento de "medium" - médium (espírita); "curriculum" – currículo; e "forum" - fórum ou foro (assembleia, etc.). Veja-se a diferença: o que se aportuguesou foi um singular. E não, como acontece em "media", um plural. Ninguém diz à latina os "fora" (plural de "forum"), mas os foros ou os fóruns. Manter como singular do aportuguesado média o aportuguesado médium é transportar para a nossa língua uma relação entre singular e plural que é da língua-mãe, o latim, e não da língua que falamos. Daí, pois, que se possa legitimar a relação médium/médiuns e, porque não?, multimédiuns. Os "multimedia" não passam de multimédiuns.
Médium e multimédiuns têm, contudo, o senão de se poderem confundir com o outro sentido de médium: espírita, coisa que os profissionais de cada meio de informação, em princípio, não querem. Mas há, felizmente, um aportuguesamento com muitos anos, que já mencionei: "medium" – meio; "media" – meios; "multimedia" – multimeios.
Afigura-se-me muito mais lógico do que o já dicionarizado "multimédia".