Claro que os múltiplos e os submúltiplos das unidades de medida não têm plural, porque, segundo o SI, «não podem ser utilizados sem a unidade a que se refiram» (e as designações obtêm-se «acrescentado o nome da unidade ao nome do prefixo»). De facto há o hábito de abreviar as designações, daí se dizer `quilo´ em vez de quilograma (única unidade base do sistema SI que já inclui o prefixo, e, portanto, isso seria mais um motivo para que não se dissociasse quilo de grama).O processo linguístico de abreviação é o mesmo em mega (de `megabyte´ [como aparte sublinho que já está dicionarizado, por exemplo, megabaite, mas que entre os técnicos é costume nas unidades usar as designações internacionais]), bem como é o mesmo em giga (de `gigabyte´). Repare, ainda, que o termo quilo está há muito lexicalizado com o sentido de redução de quilograma; logo o seu plural quilos é perfeitamente legítimo na língua. Na verdade, uma coisa são as regras, outra a forma como as comunidades usam os seus significantes para se entenderem nos vários conceitos. É preciso não esquecer nunca que uma das características do signo linguístico é a arbitrariedade (a dependência da comunidade que o usa). Assim, no `mundo informático´ ninguém tem dúvidas quando se diz que determinado disco tem tantos `gigas´. E podemos nós dizer que este espantoso `mundo´ está errado? A nossa língua deve ser protegida contra modernismos laxistas que contrariem a sua índole e contra erros gramaticais grosseiros, mas ninguém consegue mantê-la fossilizada, pois a sua enorme versatilidade acaba sempre por nos surpreender com novas soluções. Dispõe de uma herança de muitos séculos e de muitas vivências...
Ao seu dispor,