Pela forma como a pergunta é colocada, parece adequado incluir na resposta uma perspetiva comunicativa, mais do que exclusivamente gramatical. Nesse sentido, pensemos no uso das frases apresentadas pela consulente integradas nas seguintes situações de comunicação:
I. Encontramos alguém depois de um longo período durante o qual não houve contacto presencial.
II. Falamos com alguém ao telefone depois de um longo período durante o qual não houve contacto presencial.
1. Em situações como I e II, «não te ver» significa basicamente «não te encontrar» ou «não falar contigo presencialmente», sendo que o tópico é a longa duração da ausência de contacto, e não a localização temporal do evento «não te ver», «não te encontrar».
2. É preciso também ter presente que o uso dos tempos presente e pretérito imperfeito, por si só, permite uma leitura aspetual de hábito, de repetição regular e habitual, o que não acontece com o pretérito perfeito. Por isso, a combinação da expressão «há muito tempo» com o presente ou com o pretérito imperfeito exprime naturalmente uma duração de tempo, no entanto, a mesma expressão combinada com o pretérito perfeito aponta para uma localização temporal.
3. Assim, a frase a) («Já há muito tempo que não te vi») não é uma opção em situações como I ou II, porque seria entendida como a localização no tempo de uma situação em que «não te vi». Além disso, a não ser que ocorra num contexto específico, enquadrada por mais informação, uma frase como a) dificilmente será aceite como boa, o que acontece sobretudo com o verbo ver na forma negativa, provavelmente porque se está a localizar a não realização de um evento. Por outro lado, uma frase que exprima duração, como «Não te vi durante muito tempo», é mais facilmente aceite, embora não seja natural em situações de comunicação como I ou II.
4. Numa situação do tipo I, ambas as frases b) («Já há muito tempo que não te via») e c) («Já há muito tempo que não te vejo») são tipicamente usadas e interpretadas como equivalentes, destacando-se a duração do período em que, repetidamente, «ver-te» não aconteceu. Todavia, uma observação mais rigorosa pode levar-nos a conjeturar sobre algumas diferenças entre elas. Ao usar o imperfeito na frase b), fica apenas implícito que a situação que existia no passado («não te ver») foi interrompida pela situação presente («ver-te»), não se percebendo se alguma vez «ver-te» foi um hábito, se aconteceu com frequência, com regularidade. Já a opção pela frase c) dá a ideia de que a situação de «não te ver» não só é habitual como também se opõe a uma situação anterior em que «ver-te» chegou a ser habitual, frequente.
5. Para uma situação como II, em que não existe o contacto presencial/visual, a única frase possível é a c), pois é a única que permite a interpretação de que a situação de «não te ver» continua a ser verdadeira.
6. Aceitando-se a distinção mais detalhada entre b) e c), no ponto 4, o uso da frase b) será mais natural numa situação I aplicada a alguém com quem nunca tivemos o hábito de nos encontrar regularmente. A frase c) parece mais lógica numa situação I em que falamos com alguém que anteriormente víamos com regularidade (como um colega da universidade ou do trabalho, por exemplo).