Nesta parte do poema, o sujeito poético evidencia a consciência da impossibilidade de se conhecer. Apesar de parecer muito complexa, a frase «fingir é conhecer-me» acaba por se revelar simples, pois, se alterarmos a ordem das palavras, verificaremos que tal mudança resultará em «conhecer-me é fingir». Assim, assertivamente, o sujeito poético assume que conhecer-se corresponde a representar, a simular uma verdade.
Com esta afirmação, o sujeito poético transparece, mais uma vez, a angústia que o domina, a de não se libertar do peso da razão, que o constrange e que não lhe permite cair na tentação do ludíbrio de se enganar sobre si próprio, sobre a complexidade da sua natureza, que não lhe dá tréguas. Esta é mais uma forma de evidenciar o seu inconformismo perante a sua realidade, pois sabemos que este sujeito poético tem o cuidado de nos mostrar a sua capacidade (que acaba por ser uma obsessão) de se distanciar de tudo em que esteja envolvido (e o processo de escrita surge como a materialização desse seu estado de alerta constante, enquanto poeta, em que analisa os seus sentimentos para, depois, os poder representar por palavras). Mas a conclusão a que chega é que nem esse processo lhe dá acesso ao autoconhecimento, apesar de criar a figura do sujeito que escreve/observa/analisa sobre o objecto que é ele próprio.
Essa frase parece um paradoxo ou, literariamente falando, um oxímoro, mas verbaliza rigorosamente a sua realidade paradoxal.