O inglês hooligan significa jovem violento e barulhento, rufia, desordeiro – relacionado nos últimos decénios com as claques do futebol; e hooliganism, aportuguesado nos jornais como "hooliganismo", refere-se aos actos de vandalismo cometidos por indivíduos pertencentes a essas claques.
N. E. (17/06/2016) – O dicionário da Academia das Ciências de Lisboa, publicado em 2001, regista a palavra inglesa hooligan, mas remete-a para o seu aportuguesamento, holígane, à qual se segue holiganismo, grafia que se enquadra melhor nos princípios ortográficos do português* do que "hooliganismo". Embora estes aportuguesamentos fonéticos e gráficos possam figurar noutras fontes dicionarísticas (ver Dicionário Priberam da Língua Portuguesa), vale a pena explorar os recursos lexicais do português para formar uma expressão com vocábulos vernáculos ou mais enraizados na língua. Por exemplo, o dicionário inglês-português da Porto Editora (disponível na Infopédia) dá como equivalentes de hooligan as palavras vândalo, desordeiro, arruaceiro, rufião, as quais, porém, se afiguram demasiado vagas, por não evocarem imediatamente o domínio nocional do futebol; mais específica e adequada se apresenta uma das definições que o Dicionário Houaiss propõe para hooligan – «torcedor arruaceiro». Olhando para outras línguas românicas, relevem-se as recomendações da Fundación para el Español Urgente – Fundéu BBVA, a qual, substituindo hooligan, propõe hincha violento (= «adepto/apoiante violento»), barra brava (com significado semelhante, mas, ao que parece, mais ao estilo hispano-americano) e fanático violento. Entre estas soluções do castelhano, hincha é provavelmente a mais expressiva e aproveitável para o português, porque se transpõe (ver dicionário de espanhol-português da Porto Editora) como adepto, apoiante e claquista (ainda que este último derive de claque, aportuguesamento do galicismo claque), tudo termos capazes de evocar o universo futebolístico; a estes nomes podem associar-se os adjetivos violento, desordeiro, ou, como faz o Dicionário Houaiss, arruaceiro. Em suma, em alternativa a hooligan, o português permite soluções como «adepto violento», «apoiante violento», «claquista violento» ou «torcedor violento» (em qualquer uma é aceitável trocar violento por desordeiro ou arruaceiro).
* Sobre os estrangeirismos entrados na nossa língua, (re)leia-se o que recomenda Manuel Rodrigues Lapa (1897-1989), na sua obra maior, Estilística da Língua Portuguesa, sobre os estrangeirismos: «[...] «Os povos que dependem económica e intelectualmente de outros não podem deixar de adoptar, com os produtos e ideias vindas de fora, certas formas de linguagem que lhes não são próprias. O ponto está em não permitir abusos e limitar essa importação linguística ao razoável e necessário. Contido nestes limites, o estrangeirismo tem vantagens: aumenta o poder expressivo das línguas, esbate a diferença dos idiomas, tornando-os mais compreensivos, e facilita, por isso mesmo, a comunicação das ideias gerais. Uma coisa é necessária, quando o estrangeirismo assentou já raízes na língua nacional: vesti-lo à portuguesa.»