Como elemento da equipa do Ciberdúvidas, agradeço as palavras de apreço que nos dirigiu por uma resposta sobre dois excertos de Os Lusíadas, em que se explica o sentido de um aposto e o da presença das figuras de estilo, de entre as quais é indicada a hipérbole no verso «Que o mundo pareceu ser destruído!», figura que surge também, frequentemente, designada como exagero.
Mas, se fizermos uma análise mais profunda, dar-nos-emos conta de que, tal como o consulente propõe, essa hipérbole transparece uma ideia de amplificação1 construída numa «lógica de progressão significante»: a surpresa perante o inesperado, a rapidez e a violência «da grande e súbita procela», os gritos do mestre, o barulho da força dos «ventos indinados», o ruído do rasgar da vela em pedaços de tal forma horrível, que «o mundo pareceu ser destruído». Há um evoluir da narração através das sensações vividas pelos marinheiros provocadas, sobretudo, pelo crescendo da violência dos sons que dominam o ambiente.
Tendo em conta que essa amplificação «se concentra no desenvolvimento ou consolidação de uma ideia, apresentando-a sob todos os pontos de vista possíveis», pode tomar o nome antigo de auxese – do gr. aúxesis, «crescimento» –, uma forma de hipérbole» (E-Dicionário de Termos Literários, de Carlos Ceia, org.).
1 Amplificação, «figura de retórica (amplificatio) que consiste no desenvolvimento de um facto ou de uma ideia, destacando ainda mais as suas particularidades. Trata-se de um recurso frequente na épica, na tragédia e na oratória, estudado pelos retóricos antigos, desde Aristóteles a Cícero e Quintiliano, sempre com o sentido de “realçar uma ideia, para a fazer valer”» (idem).