O fenómeno de harmonização vocálica (ou harmonia vocálica) é o «modo como a articulação de uma vogal é influenciada pelas propriedades de outra(s) vogal(ais) na mesma palavra ou no mesmo grupo de palavras» (Dicionário de Termos Linguísticos).
O Dicionário Houaiss é bastante concreto:
«Tipo de assimilação vocálica, em que as vogais de uma palavra se tornam foneticamente semelhantes a outra vogal da mesma palavra (geralmente a tônica, mas não obrigatoriamente), com a troca de alguns dos seus traços; harmonização vocálica (p. ex., a pronúncia de certos verbos, como [de'ver] dever, mas [di'via] devia, por assimilação ao [i] da desinência).»
Uma obra em inglês – Philip Carr, A Glossary of Phonology (2008), «vowel harmony» – dá um exemplo de harmonia vocálica, recorrendo ao quicuio, língua da família banta falada pelos quicuios do Quénia. Nesta língua, existe um sufixo que tem a forma [ɪr] (a vogal alta [ɪ] é próxima de [i]), ou a forma [er] ([e] é uma vogal menos alta); a seleção de uma destas variantes depende da altura da primeira vogal da raiz – exemplo: [rut-ɪr-a], «trabalhar para», porque [u] é uma vogal alta como [ɪ], mas [ror-er-a], «olhar para», porque [o] é uma vogal menos alta.
Nota: O consultor Luciano Eduardo de Oliveira lembra-me de que também existe harmonia vocálica em línguas europeias, não da família indo-europeia, mas da subfamília fino-úgrica: «Há harmonia vocálica, por exemplo, em húngaro e em finlandês. Em húngaro usa-se o sufixo ban/ben para indicar onde (em algum lugar) segundo a vogal da palavra a que se junta, como em Budapest (Budapeste), Budapesten ("em Budapeste"), Portugália (Portugal), Portugáliában ("em Portugal"). Em finlandês o sufixo com idêntica função é ssa/ssä: Espanja (Espanha), Espanjassa ("na Espanha"), Helsinki (Helsínquia), Helsingissä (note-se a troca de k para g) ("em Helsínquia").»