Roman Ingarden (A Obra de Arte Literária) teoriza, de facto, muito, mas pouco ajuda em casos concretos. No estrato das formações fónico-linguísticas, refere os seguintos casos: 1. a palavra isolada e o seu fonema significativo – a significação daquela decorre do modo como a pronunciamos, destacando este ou aquele fonema e criando, assim, a «expressão» de um sentido; nasce, aqui, um jogo de 2. diversos tipos de fonemas significativos e respectivas funções, evidentes em simples leitura de poema, em que podemos tornar «vivas» ou «vigorosas» vogais, à primeira vista ou em certas leituras, brandas ou neutras; isso percebe-se melhor ao passar às 3. formações fónico-linguísticas de ordem superior, ou ritmos, com seu «andamento», o qual dá carácter à linguagem poética. Na sua regularidade, o ritmo constitui-se em unidades fónicas de ordem superior (casos do «verso» ou da «estrofe»). Quando passar ao «modo» e à «estruturação» da obra literária, Ingarden aproxima-se de uma definição de género ou do que, na arte do romance, é a sua polifonia. No segundo estrato, o das unidades de significação, trata da importância do nome, do adjectivo, do verbo; um termo funcional (uma preposição, p. ex.) terá alguma importância? Já a conexão em frases pode ser decisiva, levando ao juízo (ele diz «quase-juízo») a extrair de frases constituídas em poema. Passa, depois, aos aspectos esquematizados, ou apresentação de objectos, que adquirem uma certa preponderância, presentificados de modo interno ou externo, de forma acústica, visual, etc., com herói marcado, individual ou colectivo, desembocando num estilo (as figuras de estilo e pensamento são aspectos desse tipo). Fecha com a função na obra das objectividades e a chamada «ideia» da obra, aí onde começa a diversidade de leituras, preparadas, de resto, desde aquele fonema inicial que, às vezes, nos obsidia num poema e nos acompanha no resto da vida...