Sem ser um especialista na área da fonética, vou arriscar-me a dar uma opinião. No português falado em Portugal ocorreu um fenómeno de fechamento das vogais, em que enuncia-se parcialmente ou "come-se" algumas delas. É o caso do e na palavra "pedrada", mais curto no português de Portugal ou do i no nome próprio "Fátima", que quase não são pronunciados. Pelo que sei, a menor articulação favorece o falar mais rápido.
Nessa questão específica, o falar do brasileiro está mais próximo do que era utilizado no século XVI. Os especialistas em literatura podem comprovar que a leitura de Camões só mantém o ritmo original no português do Brasil. Isso porque, como os portugueses "comem" sílabas, os versos perdem a sua métrica na pronúncia portuguesa actual. O contrário ocorre com Fernando Pessoa…
Quanto à segunda questão - a do falar da rua com erros de sintaxe -, não se pode tomar o falar brasileiro como um todo. Existem variantes regionais: no Maranhão, por exemplo, considera-se que é falada a forma mais correcta do português no Brasil. Para um brasileiro que chega a Portugal, causa alguma surpresa a correcção utilizada na colocação dos pronomes. No entanto, o estranhamento surge quando se ouve expressões como "muita bom" ou "a gente somos".
Em São Paulo, o motivo dos erros é a origem da população. A forte influência italiana, que vem desde o século passado, deixou suas marcas na língua. No italiano, o plural das palavras não é feito colocando um "-s" ou um "-es" no final. Geralmente, a vogal "-i" no final da palavra é a marca desse género. Como exemplo, temos as palavras "brocoli" (brocolos) e "vongoli" (mexilhões). A influência italiana fez com que resultasse numa mistura incorre{#c|}ta para os dois lados: em São Paulo, fala-se, por exemplo, "dois pastel".
Ocorre na língua um fenómeno que é a reprodução das formas utilizadas nos centros em direcção à periferia. Como São Paulo tornou-se o pólo de riqueza do país, a pressão social criou a necessidade de falar como os paulistanos. Daí que, na área sob a influência da metrópole, se repita esse tipo de erros. Cf. «Falar mais devagar».