Entre as fontes a que se reconhece autoridade na aplicação dos princípios e regras da ortografia, saliento o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP), disponível na Infopédia, onde a forma atribuída à capital em apreço é Erevan. Por seu lado, o Código de Redação Interinstitucional, apresentado como «instrumento de referência no domínio da escrita [do português] para todas as instituições e todos os órgãos e organismos da União Europeia», apresenta a grafia Erevã. Em fontes enciclopédicas não tão recentes, usa-se a forma Erivan (cf. s.v. Arménia, Enciclopédia Verbo de Cultura e Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira). Refira-se que infelizmente o Vocabulário da Língua Portuguesa (1966) de Rebelo Gonçalves, que poderia ser uma boa fonte para a identificação de uma forma mais solidamente fundamentada em critérios filológicos, não regista o nome da capital da Arménia.
Assinale-se que, em arménio, o nome desta cidade é representado pela forma Երևան, que corresponde à transcrição fonética [jɛɾɛˈvɑn] (cf. artigo Երևան do Wiktionary), na qual [jɛ] representa a articulação da unidade fonológica /ɛ/ em princípio de palavra, conforme uma regra fonética do arménio, muito embora [jɛ] e [ɛ] se escrevam da mesma maneira, com ե (maiúscula Ե; cf. artigo sobre ե no Wiktionary).1 Esta pronunciação permite explicar que em inglês se tenha imposto a forma Yerevan, que decorre dessa transcrição, e não a transliteração Erevan, que caiu em desuso, mas que mantinha a indistinção entre [je] e [e] da ortografia arménia (cf. Yerevan, no Wiktionary). As formas registadas pela lexicografia do português — refiro-me às fontes lexicográficas que consultei e não a todas as mencionadas pelo consulente, que são as que ocorrem em artigo na Wikipédia, acrescidas da forma inglesa — sugerem a adoção de um critério mais fundado na transliteração (Erevan/Erevã), em detrimento da transcrição fonética (Ierevan/Ierevã).2
Sendo assim, e dado que os outros vocabulários ortográficos (o VOLP da Academia Brasileira de Letras e o VOP do ILTEC) não apresentam a grafia de topónimos, considero que atualmente são válidas as formas Erevan e Erevã. No entanto, parece-me que Erevã está mais de acordo com a tradição ortográfica do português, uma vez que são nulos ou raros os casos de palavras terminadas agudas terminadas em -an (cf. Dicionário Houaiss).3
1 Agradeço a Luciano Eduardo de Oliveira o ter-me chamado a atenção para os problemas de transcrição e transliteração desta palavra (cf. blogue deste consultor, Linguae Textae). A diferença entre transcrição e transliteração pode ser entendida do seguinte modo: a primeira visa representar unidades fonéticas ou fonológicas de uma língua (os chamados sons); com a segunda, estabelecem-se equivalências entre unidades de alfabetos ou sistemas de escrita diferentes.
2 A forma Erevão também tem legitimidade, atendendo à oscilação Irã/Irão, correspondente ao persa moderno ایران (transcrição fonética [iːˈɾɒːn]; cf. artigo no Wiktionary), mas as fontes lexicográficas que selecionei não a registam.
3 Embora o Portal da Língua Portuguesa, mantido pelo ILTEC, integre um Dicionário de Topónimos e Gentílicos, não se encontra aí o nome da capital arménia.