O verbo envolver é um verbo transitivo que pode surgir pronominalizado, como é o caso no exemplo em análise. Nesta circunstância exige um complemento introduzido por uma preposição, que pode ser em ou com:
(1) Envolveu-se num cobertor.
(2) Envolveu-se com um cobertor
Na Nova Gramática do Português Contemporâneo, Sá da Costa, Lisboa, os autores consideram que, quando um verbo precisa de um complemento introduzido por uma preposição, esse complemento é sempre complemento indirecto. No entanto, o complemento indirecto desempenha, do ponto de vista semântico, um papel temático específico que o torna a meta (ou alvo), ou seja, o final do percurso desencadeado pela acção do sujeito. Além disso, é, normalmente, o beneficiário dessa mesma acção. Vejamos a frase:
(3) O João ofereceu rosas à Maria.
A Maria é o alvo, ou meta, porque a acção desencadeada termina neste complemento. É também a beneficiária. Pelo exposto, não consideraria “em confrontos” um complemento indirecto. Mas também não é um complemento circunstancial, pois este tipo de complementos nunca é obrigatório, ao passo que o complemento em análise o é. Estamos, portanto, perante uma situação que as gramáticas tradicionais não analisavam, que é o facto de haver complementos obrigatórios introduzidos por preposição (sem serem complementos indirectos), ou formados por advérbios. ”Em confrontos” é, pois, um constituinte imediato de frase, ou sintagma preposicional dependente do verbo.
Perguntar ao verbo a quem, para obter como resposta o complemento indirecto, é uma forma muito comum, mas não totalmente eficaz. Se perguntar, na frase (3), “A quem é que o João comprou rosas?”, a resposta permite identificar o complemento indirecto. Só que esta é uma das frases em que o complemento indirecto designa uma pessoa. Se eu fizer a mesma pergunta para a frase (4), o resultado é estranho!
(4) O João deu brilho aos sapatos.
Com efeito, nesta frase, o alvo ou meta da acção/ação do sujeito não é uma pessoa, e, normalmente, só se usa o pronome interrogativo quem para designar pessoas.
Receio, no entanto, não ter alternativa melhor para lhe sugerir. Poderia dizer-lhe que o complemento indirecto é substituído pelo pronome pessoal oblíquo lhe… Mas esta substituição também só funciona eficazmente com pessoas…