As alternâncias das formas de imperativo da 2.ª pessoa do singular diz/dize, faz/faze, traz/traze pertencem ao domínio morfológico e não têm de ser resolvidas pelo Acordo Ortográfico de 1990, que tem em vista representar graficamente a pronúncia das palavras. O facto de o consulente brasileiro ter usado o imperativo dize talvez nos diga mais sobre um estilo linguístico pessoal do que sobre a variedade brasileira que ele usa normalmente. Basta recordar que no Brasil as formas de 2.ª pessoa do singular são, na sua maior parte, substituídas pelas da 3.ª pessoa em associação com a forma de tratamento você. O tu ainda se usa, ao que parece nos estados do Sul e nos do Norte, mas combinado muitas vezes com a flexão de 3.ª pessoa do singular («tu não fala assim comigo»). No caso do imperativo, seria de esperar que se usasse, em relação a um interlocutor, as formas correspondentes a você — diga/faça/traga (você) —, mas sabemos que coloquialmente se emprega «diz/faz/traz para mim».
No entanto, é verdade que a consulta de uma gramática brasileira, a Moderna Gramática Portuguesa (págs. 267-271), de Evanildo Bechara, apenas regista como imperativos de 2.ª pessoa do singular dos verbos dizer, fazer e trazer as formas dize, faze e traze, deixando pensar que ainda são amplamente usadas no Brasil. Considero que não é disso que se trata: tais formas estão presentes porque os objectivos da gramática são normativos e procuram descrever um uso que é tradicionalmente visto como correcto no Brasil — mesmo que algumas formas nunca ou raramente se usem entre brasileiros.