O vocábulo desertificação significa, no português corrente, o acto ou efeito de desertificar; ou seja, transformar em deserto, o que implica despovoar e desarborizar, pois um deserto é, por definição, uma vasta região escassamente habitada e quase sem vegetação.
Julgo, porém, que o consulente possui uma noção científica bastante estrita do significado deste vocábulo. Em termos ecológicos, com efeito, o termo desertificação é empregue no sentido do uso destrutivo de um terreno. O sobrepastoreio e a agricultura intensiva afectam, por exemplo, o equilíbrio ecológico de uma região, desencadeando um processo de desertificação.
As regiões do globo mais sensíveis à desertificação, segundo os ecologistas, são as que se situam nas zonas limitrofes do chamado Limite Agronómico de Aridez, onde a preservação do ecossistema apenas permite a cultura de sequeiro e a rega gota a gota, já que as técnicas tradicionais de regadio - devido aos altos níveis freáticos e aos sistemas hidráulicos normais (condutas e acéquias) - favorecem a evaporação e infiltração da água, que deste modo fica subaproveitada. Esses limites de colonização agrária estão presentes em todo o globo; na Ásia Central, nas Montanhas Rochosas e Rio Grande da América do Norte, no Magrebe, junto ao paralelo 10ºN (que passa sobre o Corno de África e o curso do Níger), no Calaári e nas áreas que ligam os litorais ao interior australiano. No caso ibérico, podemos afirmar que as terras meridionais já estão de algum modo afectadas pela desertificação, pois situam-se perto do Limite Agronómico de Aridez que se localiza nas montanhas do Atlas.
Parece evidente que o esgotamento dos terrenos cria, a breve trecho, as dificuldades económicas que incrementam o despovoamento das regiões afectadas. Por esse motivo, é aceitável que, ao nível do senso comum, a redução dos efectivos populacionais possa ser vista como uma consequência directa do perigo de desertificação.