Amorim de Carvalho, no seu Tratado de Versificação Portuguesa (Porto, 1941, p. 26) alerta-nos para o facto de que «o heróico e o sáfico são frequentemente combinados», o que significa que num poema podem ocorrer decassílabos «de acentuação interna na 6.ª e na 10.ª sílabas [decassílabo heróico, porque o seu ritmo, vigoroso e grave, é adequado aos assuntos de caráter épico»] (idem, p. 25) e «de acentuação na 4.ª, 8.ª e 10.ª sílabas [sáfico] (idem, p. 27).
Uma vez que se está a analisar a questão do decassílabo sáfico, importa assinalar, também, que Cunha e Cintra nos alertam para a possibilidade de este tipo de decassílabo «ter a 1.ª ou a 2.ª sílaba também fortes» (Cunha e Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, Lisboa, Sá da Costa, 2001, p. 684), caso que exemplificam com a seguinte estrofe:
Quan/do eu/ te/ fu/jo e/ me/ des/vi/o/ cau(to)
Da/ luz /de/ fo/go/ que/ te/ cer/ca, oh/! be(la),
Con/ti/go/ di/zes/, sus/pi/ran/do a/mo(res)
«— Meu/Deus/! que/ ge/lo/, que/ fri/e/za a/que(la)!»
(Casimiro Abreu)
Assim, e tendo em conta estas observações, em relação à escansão que fizemos dos versos que nos apresentou, apercebemo-nos de que se trata, de facto, de versos decassílabos em que se verifica a ocorrência de quatro versos sáficos e de dois heróicos:
Can/ta/-me, ó/ deu/sa/, do/ Pe/lei/o A/qui(les) — sáfico
A i/ra/ te/naz/, que/, lu/tu/o/sa aos/ Gre(gos), — sáfico
Ver/des/ no Or/co /lan/çou/ mil/ for/tes/ al(mas), — heróico
Cor/pos /de he/róis/ a/ cães/ e a/bu/tres/ pas(to): — sáfico
Lei/ foi/ de/ Jo/ve, em/ ri/xa ao/ dis/cor/da(rem) — heróico
O/ de ho/mens/ che/fe e o/ Mir/mi/don/ di/vi(no). — sáfico