a) Como podemos ver nos dicionários de verbos portugueses, o fonema [s] final de todas as formas verbais da segunda pessoa do plural mantém-se mesmo quando é seguida por vos. Exemplo: Vós lavais-vos.
b) Na primeira pessoa do plural, a última sílaba perde o [s] final quando seguida pelo pronome átono nos. Exemplo: Nós vemo-nos.
Este fenómeno é uma forma de haplologia determinada pela ressonância nasal da sílaba mos que continua no pronome apoclítico nos. A sílaba final mos, quando encontra o pronome nos, sofre a elisão do fonema [s] que entretanto se mantém no pronome proclítico nos.
Se o pronome seguinte for tónico, este fenómeno não se verifica. Exemplo: Vamos nós?
Neste caso também há ressonância nasal, mas a vogal aberta [ó] obsta à repetição e à elisão da consoante [s].
c) Um exemplo de haplologia é a formação da palavra caridoso, que sendo derivada de caridade com o sufixo -oso não é “caridadoso”, como seria normal. A existência de duas sílabas foneticamente próximas leva à eliminação de uma delas. Resumindo: caridade + -oso = caridoso.
d) Se dissermos «nós damos-vos uma prenda», as vogais finais do verbo e do pronome são iguais, mas não há ressonância nasal.
Nós damos-vos respeita a regra do pronome pessoal vos que não dá lugar à eliminação da consonte [s] anterior porque o fonema [v] não é nasal e, por isso, quebra o efeito da consoante nasal da última sílaba do verbo.