DÚVIDAS

Como assinalar o refrão

Gostaria de saber como devemos assinalar o refrão de uma cantiga de amigo, quando fazemos o seu esquema rimático. Alguns livros indicam que devemos registar a letra R para identificarmos o refrão neste tipo de cantigas (ex: aaR/bbR/aaR/bbR); outros referem que devemos seguir a lógica da elaboração do esquema rimático e, neste sentido, mudamos a letra do alfabeto conforme muda a rima das palavras, embora a rima do refrão deva ser registada com letra maiúscula (ex: abbaCC/deedCC/fggfCC). Qual destas situações é a correta?

Obrigada.

Resposta

Em Textos Portugueses Medievais, de Correia de Oliveira e Saavedra Machado, adota-se o esquema rimático de letra diferente grafada com maiúscula para assinalar o refrão, isto é, aa BBB:

 

«Madre velida, meu amigo vi;
non lhi falei e con el me perdi,
     e moir' agora, querendo-lhi ben;
     non lhi falei, ca o tiv' en desden;
     moiro eu, madre, querendo-lhi ben.

Se lh' eu fiz torto, lazerar-mh-o-ei
con gran dereito, ca lhi non falei;
     e moir' agora, querendo-lhi ben;
     non lhi falei, ca o tiv' en desden;
     moiro eu, madre, querendo-lhi ben.

Madre velida, ide-lhi dizer
que faça ben e me venha veer;
     e moir' agora, querendo-lhi ben;
     non lhi falei, ca o tiv'en desden;
     moiro eu, madre, querendo-lhi ben.

                                                                                   Ayras Carpancho, CV 259, CBN 621

Dísticos emparelhados de decassílabos agudos, com refrão de três versos, também decassílabos agudos. Esquema rimático: aaBBB.» (p. 85)

 

Mas os mesmos autores também empregam a letra R grafada com maiúscula para designar os versos do refrão:

«- Ai fremosinha, se ben ajades,
longi de vila quen asperades?
- Vin atender meu amigo.

- Ai, fremosinha, se gradoedes,
longi de vila quen atendedes?
- Vin atender meu amigo.

- Longi de vila quen asperades?
- Direi-vo-l'eu, pois, me perguntades:
Vin atender meu amigo.

- Longi de vila quen atendedes?
- Direi-vo-l'eu, poi-lo non sabedes:
Vin atender meu amigo.

                                               Bernal de Bonaval, CV 728, CBN 1070

Cantiga paralelística perfeita, dialogada, em eneassílabos graves e refrão monóstico setessílabo. Esquema: aa'R// bb'R// aá''R// a'á''R// b'b''R.

R indica o refrão.» (p. 87).

Para esta mesma cantiga, vemos em Textos Literários Medievais, Mário Fiuza, Porto Editora, 1976, o seguinte: «Cantiga paralelística  perfeita em dísticos de versos eneassílabos graves, monórrimos, seguidos dum refrão monóstico heptassilábico grave, segundo o esquema: aa' B/ cc' B/ a'a B/ c'cB.»

Conclui-se, pois,  que ambas as opções são válidas para apresentar o esquema rimático.  

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