Verdadeiramente, não há tal ou tal palavra que atrai o pronome para trás. São tantos os casos, que teríamos de escrever um livro sobre tal assunto.
A língua não é somente para ser compreendida a fim de não errarmos. É também para ser sentida. Quem a sentir profundamente e a conhecer bem, não erra na organização da linguagem.
Vejamos, então, esta frase:
a) Eu vejo-te.
b) Eu não te vejo.
c) Eu já te não vejo.
Na frase a), não há nenhuma palavra entre o sujeito e o verbo. Por isso, o pronome te vai a seguir ao verbo.
Na frase b), introduziu-se o advérbio não. Por isso, o pronome te recuou.
Na frase c), introduzimos mais outra palavra: o advérbio já. Por isso, o pronome te recuou ainda mais.
A frase c), porém, ficará mais bem dita (e não melhor dita, como há quem prefira), se a construirmos assim:
d) Eu já não te vejo.
Ambas as frases estão correctas. Empregar uma ou outra depende do contexto e/ou da situação. Quem souber sentir a língua, também saberá qual a que deve preferir.
Há casos, porém, em que o pronome pode recuar, mesmo que entre o sujeito e o verbo não haja outra palavra:
a) Eu digo-lhe.
b) Eu lhe digo.
Empregamos uma ou outra, mas em casos diferentes:
c) Eu digo-lhe já como é.
d)Eu lhe digo... e depois fará como entender.
Na frase d), o verbo dizer significa mais ou menos explicar aconselhando, e sentimosque dá mais intensidade à frase, do que em c).
Dizemos:
a) Agradeço-te essa ajuda.
b) Eu te agradeço essa ajuda!
A frase b) é mais intensiva e mais afectiva. É para ser compreendida e sentida.
Devemos dizer:
a) Eu vos restituo o vosso dinheiro.
Mas não devemos dizer, embora não haja incorrecção:
b) Eu restituo-vos o vosso dinheiro.
A frase b) tem o inconveniente dos dois vv de vos e vosso se encontrarem quase juntos. Esta frase soa mal.
Se alguma dúvida lhe surgir estou ao seu dispor.
Há um livro muito bom sobre este assunto, de 338 páginas, da autoria de Cândido de Figueiredo, mas há muitos anos que está esgotadíssimo.
Só o encontraremos em bibliotecas.