O verbo inteligir (assim como inteligenciar) só se encontra registado no recente Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras (2009), do que se depreende que é uma forma do português do Brasil.
No entanto, não está atestada por nenhum dos dicionários de língua portuguesa1 que consultámos, mesmo nos de edição brasileira, nem pelos vocabulários ortográficos2 de edição portuguesa, o que poderia deixar-nos reservas quanto à sua utilização, pelo menos, em Portugal. No entanto, encontramo-lo em textos de temática filosófica, como acontece na passagem:
«O que significa, pois, pensar, em termos bonaventurianos? Ora, responde o nosso Autor: “Pensar nada mais é do que o que é, o que se diz, [ou seja] conhecer [inteligir]”» (António Rocha Martins, Teologia e Metáfora em Boaventura, Covilhã, Universidade da Beira Interior, 2009)
O autor deste extracto esclarece também em nota:
«32I Sent. d. 8, q. 2 (I 154a): “[. . . ] et hoc cogitare nihil aliud est quamquid est, quod dicitur, intelligere”. (Sublinhado nosso). Costuma traduzir-se intelligere por “entender”, reservando-se “conhecer” para o termo cognitio. Vd. A. BLAISE, Dictionnaire latin-français des auteurs chrétiens, Turnhout, Brepols, 1954, p. 461: art. intelligo. Preferimos manter “inteligir”, ou vertê-lo por “conhecer”, pois nos parece este termo corresponder mais adequadamente ao sentido e desenvolvimento do texto bonaventuriano. Isso será particulamente manifesto no contraste entre intelligere e comprehendere (Deus é incompreensível mas é cognoscível).»
Inteligir é, por conseguinte, um verbo também usado em português europeu, mas só no discurso mais especializado.
1 Dicionário Houaiss de Língua Portuguesa, Rio de Janeiro, Ed. Objetiva (2001); Novo Aurélio XXI: o Dicionário da Língua Portuguesa, Rio de Janeiro, Ed. Nova Fronteira (1999), Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, Rio de Janeiro, Ed. Objetiva (2001); Michaelis: Moderno Dicionário da Língua Portuguesa, São Paulo, Ed. Melhoramentos (1998); Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa (2001); Grande Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora (2004).
2 Vocabulário da Língua Portuguesa, de Rebelo Gonçalves, Coimbra, Coimbra Editora (1966); Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Porto Editora (2009); Vocabulário Ortográfico do Português (2010), do Instituto de Linguística Teórica e Computacional (ILTEC).