O Dicionário de Expressões Correntes, de Orlando Neves, edição da Editorial Notícias, regista a expressão «As paredes têm ouvidos», dizendo sobre ela o seguinte:
«Como advertência a que se fale mais baixo, para não se ser ouvido em outras dependências, a frase é antiga e não pode ter tido origem na invenção, relativamente recente, dos microfones incrustados nas paredes ou no mobiliário.
«A versão que mais comummente surge é de algo semelhante, mas que remonta ao século XVI. Catarina de Médicis, rainha de França por casamento com Henrique II, ficou na História como mulher astuciosa e sedenta de poder que, durante mais de 50 anos, exerceu, através do marido e de seus dois filhos monarcas, Carlos IX e Henrique III. Num período de grande intriga política e religiosa, Catarina de Médicis é dada como responsável moral pela matança de S. Bartolomeu e pelas guerras entre católicos e huguenotes. Conta a pequena história que, no uso do poder, esta princesa renascentista se servia de todas as artimanhas, a mais célebre das quais terá sido, precisamente, a de ter ligado, por tubos acústicos secretos, as salas do palácio real, o Louvre, o que lhe permitia escutar o que se dizia nos locais mais afastados e, assim, conhecer os segredos de Estado de ministros e cortesãos.»
Quanto à outra expressão, «Quem pede não escolhe», as obras consultadas não a acolhem, mas ela tem que ver com a expressão usual «a cavalo dado não se olha o dente» [registada, por exemplo, no Dicionário Prático de Locuções e Expressões Correntes, de Emanuel de Moura Correia e Persília de Melim Teixeira, edição da Papiro Editora], com o significado de «a coisa dada não se põe defeito». Assim, «Quem pede não escolhe», pois, se lhe dão alguma coisa, aceita tudo, até um "cavalo desdentado".