Na gramática, as interjeições são excluídas de qualquer classificação de classe de palavras, muitas delas não são representadas graficamente, e, quando o são, têm uma grafia oscilante. Cunha e Cintra, 2005, na Nova Gramática do Português Contemporâneo, descrevem as interjeições da seguinte forma:
«Interjeição é uma espécie de grito com que traduzimos de modo vivo as nossas emoções. A mesma reacção emotiva pode ser expressa por mais de uma interjeição. Inversamente, uma só interjeição pode corresponder a sentimentos variados e, até, opostos. O valor de cada forma interjectiva depende fundamentalmente do contexto e da entoação.»
Dito isto, justifica-se a escassez das interjeições apresentadas, dada a oscilação, exiguidade da representação gráfica e da dicionarização das mesmas. Por outro lado, há que ter em conta a possível variação dialectal ou a variedade do português em que se insere a interjeição.
Seguem-se as interjeições encontradas no Dicionário Houaiss para o efeito de incentivar o início ou a cessação da marcha de um equídeo (sublinhado nosso):
a) Incentivar a marcha:
i. «arre1 , interj. (1502-c1536 cf. GVic) 1 voz com que se tocam animais de carga <a., mula!> [...] etim. interj. ár. harr, us. para precipitar a marcha das bestas; a datação é para Gil Vicente, mas o voc. deve ser muito anterior; note-se que, segundo Corominas, não há motivo para considerar a interj. um arabismo, pois teria orig. no som consonântico rr, onom. expressiva universal, us. para forçar a marcha de animais.» 2
ii. «Upa, 1858, n interjeição 1 us. para encorajar, incentivar uma pessoa ou animal em algum esforço físico.»
iii. «hep, 1899, Regionalismo – Rio Grande do Sul. n interjeição, voz de incitamento aos animais para andarem.»
iv. «anda, n interjeição, exprime, em tom de mando, súplica, impaciência ou ameaça, exortação para que alguém [ou algum animal] se apresse ou continue na execução do que está fazendo.» 3
b) Cessar a marcha:
i. «Xó 4, 1721, orig. onom.; f. hist. 1721 xô, 1789 xó, n interjeição us. para induzir as cavalgaduras a cessar o movimento.»
ii. «Pára, n interjeição, acto de parar, de interromper marcha, etim. al. halt, do v. halten 'parar, deter'.»
iii. «Alto, n interjeição, [...] voz de comando com que se ordena que se interrompa a marcha». 5
Finalizando, resta-nos salientar que existem muitas interjeições que, apesar de não dicionarizadas, são frequentes. A sua representação gráfica torna-se difícil, ainda que por onomatopeias (ex. tchic; chuc; chloc; tloc; etc.), pois são reproduzidas através de cliques, ou seja, sons que não são feitos pela expulsão do ar dos pulmões, como ocorre com todos os fonemas do português (ex. um clique bilabial, semelhante à reprodução do som de um beijo; um clique alvéolo-palatal, semelhante ao som que se reproduz ao tentar tirar comida dos dentes de trás; etc.). Fica, por isso, à imaginação de quem escreve, a grafia dessas interjeições.
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1 Desta forma, surge a forma arreador, «adj. s. m. (1899 cf. CF1) 1 que ou aquele que arreia; selador n s. m. 2 condutor de bestas de carga; almocreve, arrieiro 3 RS espécie de chicote comprido para tocar os animais ¤ etim rad. do part. arreado + -or ¤ sin/var como s. m.: ver sinonímia de chicote ¤ par arriador /ô/ (s. m.)»
2 É, portanto, provável ouvir a onomatopeia «rr» no lugar de «arre», apesar de a primeira não se encontrar dicionarizada.
3 Ao contrário dos termos anteriores, esta interjeição não é exclusiva ao tratamento de cavalos, é aplicável a pessoas, e, na variante europeia do português, o termo é largamente usado para incitar os animais domésticos, nomeadamente, cães e gatos.
4 Também grafado com <ch>; «chó».
5 Termo que, apesar de se poder utilizar para animais, é normalmente apenso à terminologia militar.