Os anais memoram feitos humanos, sendo, por isso, uma espécie do género histórico. Os Annales Portucalenses Veteres (designação de Pierre David), com possível redacção no mosteiro de Santo Tirso, focalizam a família da Maia – ficcionalmente celebrada em Herculano e Eça, p. ex. –, mas dão nota de acontecimentos desde os Godos até 1079. Notícias até 1168 são acrescentadas em Santa Cruz de Coimbra. Os Annales D. Alfonsi Portugallensium Regis (designação de Blöcker Walter) retomam, aprofundando, as notícias sobre D. Afonso Henriques. O mais conhecido Livro da Noa é uma espécie de colecção analística de informações manuscritas afins, que nos historiografam até 1405. O termo anaaes é remetido, assim, para o séc. XV. Há uma síntese da matéria no verbete «Historiografia Medieval», de Luís Filipe Lindley Cintra, incluso no Dicionário de Literatura, vol. II, de Jacinto do Prado Coelho.
De algum modo, anais homenageia a historiografia de Tácito, entre nós traduzido (1715, 1830, 1948), e, em Portugal e no Brasil, serviu a publicações de academias, bibliotecas, etc., cujos balanços anuais se viam, assim, justificados. No vol. V daquele Dicionário há alguns exemplos.
Deve notar-se que a designação convinha desde os inícios de Oitocentos, quando História e Língua convergiam no que então se entendia por Literatura. Daí, a partir de 1818, vários Annaes (como se escrevia) em título de revista, de que demos conta em Mágico Folhetim. Literatura e Jornalismo em Portugal (Lisboa, 1998). Agora, a austeridade do vocábulo já aceita, por exemplo, uns Anais Tauromáquicos (1870)...