Vou tentar responder às duas questões que apresenta, salvaguardando, no entanto, que, em língua portuguesa, como em quase tudo na vida, as questões se não limitam a preto ou a branco, ou seja, nem sempre é simples, nem sequer correcto ou produtivo, responder com sim ou não a uma questão, como espero deixar claro.
Pergunta o consulente se a oração apresentada na anterior interpelação pode, ou não, exercer função de vocativo. Opto por responder com um excerto da resposta que anteriormente dei: «Por definição, a oração relativa substantiva ou relativa livre representa, na frase, um nome. Assim, ela pode desempenhar as funções inerentes a um nome, pelo que, a meu ver e analisando bem a frase em apreço, poderá também desempenhar, ainda que não seja muito comum, a função do vocativo.» Opto, igualmente, por deixar a interpretação do que escrevi à responsabilidade do consulente, pois saber encontrar respostas é, parece-me, tão importante como saber fazerr perguntas.
Pergunta ainda se há registo, em gramáticas normativas, de orações subordinadas relativas substantivas com função de vocativo. Compreenderá que, desta vez, lhe não possa responder com um sim ou com um não. Ou melhor, digo-lhe que não. Não encontrei, em nenhuma das gramáticas normativas consultadas, a referência explícita a situações em que um vocativo tenha como realização uma oração relativa substantiva. Mas digo-lhe ainda outra vez que não. E estou certa de que desta vez vou conseguir escandalizá-lo!... Não, não conheço todas as gramáticas normativas da língua portuguesa. Em síntese, posso dizer-lhe que tal referência não é explicitada nas gramáticas que conheço e que consultei, mas não lhe posso dizer que não haja, algures, uma gramática a falar do assunto. O que lhe posso garantir é que, como afirmei anteriormente, a frase que submeteu ao apreço do Ciberdúvidas é uma frase marginal, característica do oral espontâneo, que, como sabe, não é do agrado dos gramáticos normativos analisar, pois preferem o texto literário, com qualidades de formalidade e de correcção reconhecidas. Assim sendo, ao seu «sim, ou não?» final, posso apenas responder talvez… com muitas reticências…
Termino agradecendo a sua interpelação e fazendo votos de que este meu contributo o ajude a encontrar as respostas de que precisa.