As gramáticas apresentam, como interjeições de impaciência e de aborrecimento, hum! e hem!, entre outras que denotam maior irritação e que, por isso, não se adequam ao contexto que o consulente refere.
Mas a interjeição inglesa ho-hum refere-se a um som que nós, falantes de português, também proferimos, quando estamos enfadados com o que vemos ou ouvimos, por não se tratar de uma novidade. Pronunciamos a sequência “a-hã”, ou “hã-hã”, que significa o mesmo que «pois, pois...». Portanto, eu usaria “a-hã” para traduzir ho-hum. Contudo, essa interjeição não está atestada, existindo apenas hã, que expressa «reflexão, esclarecimento, admiração» (segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa).
O facto de as gramáticas insistirem em classificar a classe das interjeições como uma classe fechada, ou seja, que não pode ser acrescida de novos termos, dificulta o processo de atestação de sequências como essa, que não obstante vêm sendo usadas na banda desenhada há muitas décadas. Aliás, se a interjeição «é uma espécie de grito com que traduzimos de modo vivo as nossas emoções» (nas palavras de Celso Cunha e Lindley Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo), torna-se quase absurdo pretender que todos nós, em todas as épocas, exprimamos reacções emotivas por meio dos mesmos “gritos”.