Na frase em questão, a forma o é pronome pessoal átono que se refere a «um livro». Ou seja, os pronomes pessoais átonos podem referir-se tanto a pessoas e animais como a coisas, objetos materiais, factos ou situações.
Os pronomes pessoais têm a mesma função que os elementos nominais e denotam as três pessoas gramaticais de um discurso, conforme esquema de Celso Cunha e Lindley Cintra (Nova Gramática do Português, p. 277):
«a) quem fala = 1.ª PESSOA = eu (singular), nós (plural);
b) com quem se fala = 2.ª PESSOA = tu (singular), vós (plural);
c) de quem se fala = 3.ª PESSOA = ele, ela (singular), eles, elas (plural).»
Segundo a função e acentuação que desempenham na frase, os pronomes pessoais podem variar de forma. Relativamente ao pronome pessoal o, estamos perante uma forma oblíqua e átona do pronome pessoal. Quando o pronome oblíquo da 3.ª pessoa, que desempenha a função de objecto direto, vem antes do verbo, apresenta-se sempre com as formas o, a, os, as:
«Nunca o vi por aqui.»
Quando vem colocado depois do verbo e se liga a este por hífen, a sua forma depende da terminação do verbo:
Se a forma verbal terminar em vogal ou ditongo oral, emprega-se o, a, os, as:
«Faço-o com muito gosto.»
Se a forma verbal terminar em –r, -s, ou –z, as consoantes desaparecem, e o pronome assume a forma -lo, -la, -los, -las:
«O trabalho de casa? Não quero fazê-lo.»
O mesmo acontece quando o pronome vem posposto ao designativo eis ou aos pronomes nos e vos:
«Ei-lo!» ou «O segredo? Não no-lo contarão.»
Com as formas verbais terminadas em nasal, a nasalidade transmitiu-se ao l- do pronome, que passou a n-:
«Fazem-no lentamente.»
O pronome pessoal o, a, os, as pode também ter um valor demonstrativo e emprega-se quando vem determinado por uma oração ou, menos frequentemente, por uma expressão adjetiva, tendo o mesmo significado de aquele(s), aquela(s), aquilo (cf. Nova Gramática do Português Contemporâneo, pp. 340 e 341):
«O homem que ri, liberta-se. O que faz rir, esconde-se.»
(Aníbal M. Machado, CJ, 228)
Ingrata para os da terra,
boa para os que não são.
(Carlos Pena Filho, LG, 120.)
Era terrível o que se passava.
(Miguel Torga, NCM, 20.)
Também tem valor demonstrativo quando, no singular masculino, equivale a isto, isso, aquilo, e exerce as funções de objeto direto ou de predicativo, referindo-se a um substantivo, a um adjetivo, ao sentido geral de uma frase ou de um termo nela presente:
O valor de uma desilusão, sabia-o ela.
(Miguel Torga, NCM, 153.)
Não cuides que não era sincero, era-o.
(Machado de Assis, OC, I, 893.)