Tendo pedido ajuda aos nossos consultores, recebemos vários pareceres, todos convergentes. Transcrevemos dois deles:
«Eurojust é um nome próprio de uma instituição, constituindo, portanto, um nome oficial. Se, na sua própria documentação oficial e no seu sítio Web, a instituição se denomina a si própria como «a Eurojust», não vejo qualquer legitimidade para que, na comunicação social, se use o género masculino. Dizer «o Eurojust» afigura-se uma situação tão disparatada quanto um jornalista um dia decidir dizer ou escrever «o ONU» ou «o OTAN».
Neste caso, o género feminino é atribuído tendo em conta o género do hiperónimo, que é unidade, nome feminino, como de resto fica bem evidente na entrada do sítio Web da instituição.
Quanto à pronúncia de Eurojust, trata-se de uma instituição da União Europeia (UE), à qual Portugal pertence.
O europês (designação informal do registo linguístico próprio das instituições europeias) tem a particularidade de se preocupar em construir termos que recorrem a radicais patrimoniais comuns à maioria das línguas oficiais da União Europeia (particularmente de origem latina), com o objectivo de criar unidades lexicais que funcionem como internacionalismos — isto é, unidades que, com adaptações ortográficas mínimas, são transparentes em várias línguas e, como tal, mais fáceis de integrar nelas. O objectivo, portanto, desta actuação é, precisamente, criar termos que sejam fáceis de traduzir para e adaptar a várias línguas de trabalho das instituições europeias e que sejam facilmente integráveis no léxico de cada uma delas, sem atritos, devido à sua transparência e ao seu carácter aparentemente endógeno.
O radical just- é um radical de origem latina, que faz parte do património lexical de várias línguas europeias e também do da língua portuguesa (encontramo-lo em palavras como justo, justificar, justiça).
Tendo em conta os argumentos anteriores, não vejo qualquer razão para se pronunciar Eurojust à inglesa e, como tal, creio que este nome próprio deverá ser pronunciado à portuguesa.»
«Eurojust é um acrónimo pelo qual se designa a Unidade Europeia de Cooperação Judiciária, um organismo da União Europeia criado em 2002 com o objectivo de incentivar e melhorar a coordenação das investigações e dos procedimentos penais entre as autoridades competentes da União Europeia, no quadro da luta contra formas graves de criminalidade transnacional e organizada.
O acrónimo é feminino, pois representa um termo feminino («Unidade Europeia de Cooperação Judiciária») e resulta da junção da abreviação de duas palavras femininas (europeia + justiça). Assim, deverá dizer-se «a Eurojust».
Quanto à pronúncia, estamos em Portugal, portanto o acrónimo deverá pronunciar-se segundo as regras da fonologia portuguesa: "just" como justiça».
Em suma:
— Eurojust deve ser pronunciado à portuguesa: "eurojuste" ou, para sermos mais precisos, em transcrição fonética, [ewɾɔƷuʃtɨ].1
— Eurojust é do género feminino, sobretudo porque representa uma expressão que é do género feminino: «Unidade Europeia de Cooperação Judiciária».
1 O o de Eurojust é aberto (símbolo fonético [ɔ]), pressupondo a pronúncia de euro- como prefixo em eurodeputado, [ewɾɔdɨputádu], e como redução de europeu no composto euro-africano [ewɾɔɐfɾikɐ´nu] (cf. Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências de Lisboa). Trata-se de um caso diferente de euro e europeu, em que o o é pronunciado como u (símbolo fonético [u]), devido a processos fonéticos específicos da estrutura morfológica dessas palavras em português europeu.