As palavras cuja grafia termina em –oz não têm de ter a mesma pronúncia em relação à vogal da sílaba final. Se voz tem o chamado [ó] aberto, arroz é pronunciado com [ô] fechado (para uma consulta das terminações das palavras, ver Ernesto d’Andrade, Dicionário Inverso do Português, Lisboa, Editorial Cosmos, 1993). Badajoz e noz têm [ó] aberto, enquanto Estremoz o tem fechado. Penso, portanto, que, no nosso sistema linguístico actual, não há uma regra para a pronúncia de -oz. Resta, assim, procurar a etimologia de cada palavra, pois sabe-se que há processos de evolução fonética que podem esclarecer certas características dos sons da fala, sobretudo as das vogais [é] ‘vs.’ [ê] e [ó] ‘vs.’ [ô] (não uso os respectivos símbolos fonéticos, por uma razão de dificuldade técnica).
Noz remonta ao étimo latino ‘nŭce’, que tinha u breve, segundo José Pedro Machado (Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa), o que, dentro das regras gerais de evolução, faria esperar o aparecimento de um [ô] fechado. Mas o facto é que a palavra tem um [ó] aberto que deve ser bastante antigo. Com efeito, em castelhano, a palavra correspondente é “nuez”, que tem o ditongo [we], que se desenvolveu a partir de um [ó] aberto em latim vulgar. Temos, pois, de assumir que o étimo latino em castelhano e em (galego-) português já teria o som [ó].
A história de Badajoz não nos esclarece muito acerca da razão de ter [ó] aberto na última vogal. José Pedro Machado explica que a forma galego-portuguesa era “Badalhouce”, “Badalhoce” ou “Badalhoz”, adaptação da forma árabe “baTalios”, que poderia ser outra adaptação de um nome pré-romano. Note-se que, em castelhano, não existe a oposição entre vogais “abertas” e “fechadas”, pelo que nessa língua o grafema o é muitas vezes pronunciado como um som a meio caminho entre [ó] e [ô]. Será que, ao adoptarem a forma castelhana “Badajoz”, o ouvido português interpretou a vogal final como aberta? Fica a pergunta…
Também não encontrei explicação para o [ô] fechado de Estremoz. O Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, apenas comenta que o topónimo tem origem desconhecida.
Por conseguinte, se há falantes de português que pronunciam “Estrem[ó]z”, não se pode dizer que estejam propriamente a errar, visto que há lacunas no presente e no passado do comportamento dessa terminação. O mais que se pode concluir é que tais falantes fogem àquilo que é o hábito de muitos outros, ou seja, a pronúncia de Estremoz com [ô] fechado.