No Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, a palavra vaso é regist[r]ada como sinónimo de navio; vaso de guerra é uma locução formada a partir de vaso e sinónima de navio de guerra e belonave. Importa, pois, saber, se vaso, «navio», é a mesma palavra que vaso, «recipiente côncavo», como parece indicar o Dicionário Houaiss, ou se se trata de palavras com etimologias diferentes. A palavra vaso evoluiu do latim ‘vas, vāsis’, através de uma forma do latim vulgar que hipoteticamente seria ‘vasum’, com o significado de «vaso, vasilha». Nos dicionários consultados (além do Dicionário Houaiss, o Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado), não se encontra explicação histórica para a possibilidade de vaso também ter a acepção de «barco, navio». Acresce que o português baixel, «barco, navio», está também relacionado com ‘vasum’, porque tem origem no catalão “vaixell”, que, por sua vez, remonta ao diminutivo latino ‘vascēllum’, «vasinho» (Dicionário Houaiss); deste diminutivo terá evoluído ainda a palavra francesa “vaisseau”, «navo, nave». Em suma, é obscura a evolução semântica de vaso, «navio». Talvez ela tenha sido favorecida por uma metáfora que permitiu comparar a forma de um certo tipo de embarcação com a de um vaso. Tal projecção metafórica deve ser bastante antiga, dada a presença, em outras duas línguas românicas (o catalão e o francês), de formas evoluídas de um diminutivo de ‘vasum’, ‘vascellum’, com o significado em causa. Se assim é, então vaso, «navio», é uma das acepções particulares de vaso, «recipiente côncavo», e podemos dizer ainda que são a mesma palavra.